Lado A
Curto rock há 15 anos, mas nunca vi um show de uma banda que sempre fui fã, mas é muito incompreendida, o Ultraje a Rigor. Uns acham "inútil" e muitos percebem no som de Roger e companhia irreverência, consciência e atitude.
Tenho ouvido com frequência o álbum "Sexo!". Lançado em 1987, um ano antes do Baêa ser Bi-Campeão Brasileiro, o LP poderia ser vendido hoje com a capa da coletânea "Perfil", pois é recheado de hit nos dois lados. "Eu gosto de mulher", "Terceiro", "A festa", "Sexo!", "Pelado" e "Ponto de Ônibus" são algumas faixas clássicas da bolacha. Adoro todas, mas o meu "índice de afinidade" com "Ponto de Ônibus" é bem superior à média da população. Fala Roger:
"Ônibus - não!
Ônibus - não!
Quê que eu 'tô fazendo aqui,
Nesse ponto de ônibus;
Essas pessoas paradas aqui,
Nesse ponto de ônibus;
Quando eu tiver dinheiro,
Quando eu tiver dinheiro,
Eu prometo a mim mesmo que
Eu só vou andar de taxi
Ainda se o tempo não tivesse mudado,
Ainda se o ônibus tivesse parado
E esse cara, aqui do meu lado,
Fica me olhando com cara de tarado
Quando eu tiver dinheiro,
Eu prometo a mim mesmo que
Eu só vou andar de taxi
O motorista não foi nada educado,
Passou na poça e me deixou encharcado
Parou à frente, super-lotado
E o cobrador que nunca tem trocado"
Lado B
Minha relação com o transporte coletivo começou em 1994, ano em que chorei com a morte de Senna e com o "É tetraaaaa, é tetraaaaa". Nesta época, passei a estudar no velho Teresa e a situação era bem tranquila já que a experiência era novidade. Trocava o passe estudantil por Fruittlella, Sparkies e Chocolate Surpresa entre outras guloseimas, ia com os meus amigos da rua falando alto dentro do buzu, bagunçava e praticava muito um verbo tipicamente baiano, "traseirar".
Além disso, morava perto do colégio e as linhas disponíveis eram inúmeras como Rodoviária Circular A, Engenho Velho de Brotas, Aquidabã, Daniel Lisboa R1, Mirantes e Colina de Periperi e Luiz Anselmo.
Em 96, mudei de escola. Fui para o colégio que era especialista em aprovação no vestibular e "batizado" de adolescente, o PhDrogas. Mas a diversão continuava de outras formas. Os "carros" da Mercedez Benz passaram a ser o transporte oficial dos bêbados, filões de aula e shows de rock.
Na faculdade, conheci Joselito e ele passou a fazer as suas brincadeiras sem noção. O prédio de aulas era longe e só existia uma opção de linhas, que passava às 06:30.
Com o tempo, voltei para o curso de inglês e comecei a estagiar. Aí o caos se instalou. Pela manhã, o destino era Brotas-Imbuí-Brotas, à tarde o itinerário mudava para Brotas-AGÊNCIA-Brotas e no final do dia, a rota passava para Pituba-Brotas. No total, eram seis passagens no mínimo. Em certos dias, costumava ultrapassar o limite de viagens oferecido pelo meu companheiro gringo Smart Card.
O ônibus lotado, as pessoas suadas, o tempo interminável de espera no ponto, os assaltos, os malucos, os crentes, os cochilos, os baleiros, a Lapa, os guris enjoados, os gordos, os gaiatos, os tarados, os mal-educados, os "cobras" e "motôs" continuaram na pós-graduação e acompanhram as minhas mudanças de emprego até 10/10/2008.
Hoje, após 14 anos, o martírio chegou ao fim. Enfim, comprei o meu carro. Ônibus, NÃO!
Dica de comunidade no Orkut:
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