quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A loura

Ontem, após "cerveja gelada depois da obra como os óculos escuros de Cartola", chego em casa e os olhos brilham ao entrar no quarto. Sobre a cama, encontro um livro que desejava desde o seu lançamento. Alguém ouviu os meus pensamentos e fez uma surpresa. Mesmo sem terminar o best seller de Garcia Marquez, leio as primeiras páginas da "Larrouss da Cerveja" e já encontro este excelente trecho:

"... esse colossal consumo é quase sempre - se não sistematicamente - prazeroso: não se bebe cerveja como alimento, não se bebe cerveja como remédio, não se bebe cerveja como rito ou culto (o que ocorre com o vinho), não se bebe cerveja por desfastio, não se bebe cerveja por dor de cotovelo ou dores mais à cabeça. Bebe-se pelo prazer de viver, sobretudo de conviver - os bebedores solitários de cerveja são pocuos e não estão bem, ou falta-lhes, no momento, um amigo. Desde muito cedo, as cervejarias, em várias partes do mundo, se fizeram enormes ambientes, extremamente conviviais, risonhos, extrovertidos, ridentes, cantantes, dançantes até.

Um bebedor de cerveja que se reconheça como tal é, antes de tudo, um homem ou uma mulher que não deseja embriagar-se - se o quisesse, poderia dar-se a bebidas dez ou mais vezes mais fortes do ponto de vista alcoólico, para igual quantidade de líquido. Assim, o que ele ou ela quer mesmo é ter o prazer, a alegria, a satisfação, o encantamento que só a cerveja pode propiciar-lhe." (Antonio Houiass).



Este texto vai para Ailton Carvalho, Carolina Guedes, Geraldinho/Chiquinho Galindo e Zeca Pagodinho.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Música baiana

É por causa do "Rebolation", "Lobo Mau", "Me dá a patinha" e outras pérolas que encaram a música feita na Bahia desta forma:

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Touring

"Moro numa cidade cheia de ritmos, que sobe e que desce ao som da maré". Realmente Salvador é uma cidade que exalta a diversidade e demonstra essa característica principalmente nesta euforia de Carnaval. Mas nem tudo é fevereiro. O ano é longo e a maré não tá pra peixe dos outros estilos, principalmente, o rock n' roll na capital da Bahêa. Desde que o samba é samba é assim.

Volto para os anos 90 e recordo como a cena rocker SSA era movimentada. Raimundos, Ratos de Porão, Titãs, Planet Hemp, Mundo Livre se misturavam às bandas locais e festivais independentes. No cenário internacional, descobria os medalhões com fitas K7 e VHS gravadas, vinis esprestados, cd's alugados e algumas aquisições. O garimpo de música era muito mais instigante do que a atual era 2.0. Desbravar a Mundial no Orixás Center, Modinha, Aky Discos, Atakadão dos Discos e Billbox e trazer uma banda ou álbum novo para os amigos ouvirem era a glória para um adolescente rockeiro. Começava ali o sonho de um dia curtir "live" algum dos dinossauros.

A década passou rápida feito um punk rock e a Soterópolis dos anos de faculdade não agradava em nada os ouvidos acostumados a decibéis pesados. Pelos noticiários sabia dos grandes shows que passavam pelo Brasil e nenhum deles, é claro, pisava em terras baianas. Assistia pela televisão o Hollywood Rock, Rock in Rio entre tantos outros espetáculos e ao vivo o que rolava era apresentações do Rappa, Paralamas e Nação Zumbi. Todo esse contexto aumentava ainda mais o desejo de estar num estádio lotado ao som de overdrives ao invés de gritos de torcida.

Em 2005, entrei em campo pela primeira vez. Fiz a minha estreia no Estádio Pacaembu em São Paulo, essa sim é uma cidade cheia de ritmos. O dono da bola foi o cara que mescla com perfeição o peso do rock com o swing do funk e a melodia de baladas pop, Lenny Kravitz. Na casa do bando de loucos, o tocador de todos os instrumentos fez o que se esperava dele, uma apresentação impecável. A baterista britadeira, os riffs de Craig Ross, o baixo pesado com metais, piano e o estilo poser do band leader fizeram os corinthianos e não corinthianos pularem, dançarem e cantarem na arena com empolgação.

Logo em seguida, por dois outonos seguidos continuei a carreira internacional pelos rios, pontes e mangues do Recife no Abril Pro Rock. Já em 2009, regresso à São Paulo para pintar a cara, cuspir sangue e curtir rock and roll a noite toda com o Kiss. Toda essa experiência foi relatada aqui mesmo em um post anterior. Quem não leu ainda, passe lá: http://ocerebroeletronico.blogspot.com/2009/04/abril-pro-rock.html.

Dando continuidade a Tour 2009, fui para o Planeta Terra e senti a porrada sonora de Iggy and The Stooges e lisérgica de Sonic Youth entre outras bandas. Mas essa viagem merece um texto à parte. Por enquanto, mostro algumas fotos que postei no orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=4514110441435946768&aid=1257696153

"Touring is never boring". Seguindo o lema de Joey Ramone, mais um show é confirmado na agenda cerca de um mês depois. Como numa final de campeonato, este foi o momento mais esperado da temporada. Sai o hino nacional e entra o metal. Sem rótulos, estereótipos nem excessos, apenas o bom, velho e pesado metal dos anos 80. Enfim, estava prestes a realizar o sonho adolescente.

Acordo às 14 horas e consigo recuperar o cansaço do dia anterior. Meu corpo era o resultado de correria no trabalho com voo atrasado, espera no aeroporto, noite de samba-rock com primos e amigos em alto estilo e cerveja gelada na cabeça. A sabedoria popular diz que o melhor neste caso é começar tudo outra vez para rebater. A voz do povo é a voz de Deus. Preferi não contrariar o Divino já que algumas horas mais tarde estaria num ambiente from hell.

Vou com amigos na Vila Madalena no meio da tarde e passamos por aquela dúvida maravilhosa: qual bar será escolhido para a concentração? Optamos pelo Empanadas e iniciamos os trabalhos. Serra Malte na mesa, degustação de tira gosto, conversa animada e tempo bom. O palco estava pronto para seguirmos ao Morumbi.

Ao chegar no caldeirão tricolor, encontro um cenário que não via há muito tempo com camisas pretas, cabelos grandes e calças jeans por todos os lados. Abro mais latinhas, diverto-me com os metaleiros e a identificação com as roupas que usava entre a sexta série e o primeiro ano do segundo grau é imediata. Enfrento uma fila surreal que, como comparativo, seria da entrada da Fonte Nova pelo Dique até a arquibancada especial! Entro e compro a primeira cerveja com um precinho de R$ 6,00! Realmente aquilo não lembrava em nada o copão que bebia na velha Fonte. Ao por os pés no gramado do Morumba, entendo o porquê de alguns jogadores amarelaram em partidas decisivas. Eram 68 mil torcedores cantando por um time americano de apenas quatro craques, James, Lars, Kirk e Robert. Às 21:32, o Metallica rola a bola com "Creeping death" seguida por "For whom the bell tolls" e joga um futebol arte por duas horas com os clássicos de sua fase áurea. Nesta noite, o sono não foi como o de "Enter Sandman". O sonho foi real.

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Este texto é dedicado aos meus amigos do Catavento que estão comigo nessa onda rocker desde 1993.