domingo, 12 de abril de 2009

Abril Pro Rock

O rock entrou em minha vida quase ao mesmo tempo em que o Abril Pro Rock surgia. Nesses anos, eu e o evento crescemos, abrimos nossas mentes para outros sons e nos profissionalizamos. Ano após ano, eu acompanhava daqui da província baiana essa evolução e a vontade de conhecer o primo rico do Garage Rock aumentava cada vez mais. Pela MTV, outra contemporânea, vi trechos de shows memoráveis como Chico Science e Nação Zumbi, Soulfly, Tom Zé, Orquestra Imperial e muitas outras bandas.

Em 2007, após algumas negociações no trabalho, ajuste de contas e planejamento de viagem, saí do insuportável marasmo de Salvador entre o carnaval e o São João e pousei na capital do mangue beat. Faltava pouco para realizar o desejo adolescente de conhecer o festival independente mais importante da região. Depois de um dia de sol e boêmia pelas ruas de Olinda, chego ao Centro de Convenções para o dia D. Ao entrar no local, deparo-me com um caranguejo gigante e fico à vontade em meu habitat. Desde o primeiro dia até o terceiro, as minhas reações foram diversas: emocionado ao presenciar o reencontro dos Mutantes; extasiado com a jam session de Marky Ramone e João Gordo; nostálgico no show Ratos de Porão ao manter distância da temida roda punk; surpreso com o som do O Quarto das Cinzas de Fortaleza; alegre na performance ilária dos The Playboys e dançante com a metaleira da Orquestra Contemporânea de Olinda.

No ano seguinte, parto para o próximo disco. Igual a todos os segundos álbuns de carreira, a crítica é sempre exigente e a expectativa alta. Porém, Paulo André sabia disso e não decepcionou. Trouxe dinossauro do punk, o New York Dolls, clássico do hardcore, Bad Brains, ícones do underground brasileiro, Autoramas, Zumbis do Espaço e Wander Wildner, nome novo do cenário independente, Pata de Elefante, bandas locais, atrações inusitadas como Céu e Lobão que encerrou o evento com um show do caralho! O local foi outro dessa vez, o Chevrolet Hall, mas o ambiente, a energia do público e a convivência pacífica de várias tribos foi a mesma.
Em 2008, o festival teve apenas dois dias, pois a terceira data seria em maio com um show de metal. Por causa disso, o power trio - eu, Rodrigo e Rubens - entrou no palco novamente para mais uma noite entre os rios, pontes e overdrives. Fazendo "um passeio pelo mundo livre", descobrimos a qualidade e diversidade das casas locais e fomos para um bar curtir mais rock, ou melhor, samba-rock. Encerramos a turnê de 2008 em grande estilo sem frevo, mangue beat ou rock, mas com muito samba e chopp gelado como o da foto.

Neste ano, o abril continuou sendo de rock, mas em outra arena. Com exceção do Motorhead, não curti a grade de programação do Abril Pro Rock 2009. Então, troquei Recife pela Meca do barulho nacional. A mudança não foi apenas geográfica, mas principalmente de estilo. Depois de dois anos no circuito alternativo, retornei ao mainstream em todos os sentidos. De palcos pequenos para o sambódromo paulistano, do experimental ao hard rock, refletores tímidos se transformaram em telões de última geração e, finalmente, do Mukeka di Rato para o KISS.

Em 2005, assisti Lenny Kravitz no Pacaembu. Ansioso pelo show, devorava todas as informações sobre o mesmo. Numa das entrevistas, o cantor disse que a iluminação e produção da sua turnê tinham como inspiração os grandes concertos do Kiss. Apesar de já ter assistido diversos clipes da banda, não fazia idéia do que seria um espetáculo desse ao vivo. Quatro anos se passaram e eu estava a pouco metros de Stanley e Simmons para saber se Lenny tinha razão. Não havia local mais apropriado para a apresentação dos caras pintadas, pois o show foi mais apoteótico do que o desfile das escolas de samba, a explosão das bombas e fogos era tão sincronizada quanto as batidas das baterias, efeitos pirotécnicos de cair o queixo e, claro, uma musicalidade simples e absurda! Foram duas horas de puro rock n' roll com muitos hits e também algumas faixas Lado B. Apesar do som estar ruim, o vídeo abaixo mostra um pouco do que escrevi aqui.


Sedento por rock n' roll, volto pra boa terra e decido continuar a temporada rocker. O calendário apontava 10/04/09, sexta-feira da paixão. Rock em plena sexta-feira santa é coisa do capeta? Então vamos para o "Hell Private Club"! Cascadura! Volto para a realidade e aproveito tudo o que o underground oferece de melhor, música boa e alta no ouvido

É por isso que Jagger canta há anos "It´s only rock n' roll, but I like it"

sábado, 4 de abril de 2009

Vida de publicitário

Mais uma vez, convoco o inútil Roger para colaborar com O cérebro eletrônico. Nada mais adequado até porque o craque do Rockgol é conhecido não só por cantar versos singelos como "é tudo filho da puta" ou "eu vou enfiar um palavrão", mas também pelo seu elevado QI. Após trocar algumas idéias com ele e desabafar sobre a rotina do publicitário baiano, o compositor de "Marylou"escreveu este belo poema:

"Todo dia essa é a minha labuta
Eu trabalho feito um fila-da-puta
Pelo menos se eu estivesse mais rico
Mas que nada estou pedindo penico

Domingo eu vou pra praia
Domingo eu vou pra praia
Pode parar tudo eu vou pra praia"

Como sempre, meu amigo tricolor paulista acertou em cheio, ou melhor, no target. Esse é o way of life da propaganda soteropolitana e acredito que seja também das outras cidades. Material fora do prazo, clientes sem planejamento, prospecções, concorrências e jobs urgentes nos fazem passar horas a mais na agência com uma frequência média tão elevada quanto um planejamento de mídia das Casas Bahia.

Antes de eu comprar o carro, conhecia todos os taxistas da companhia que trabalhavam à noite. Eles já me chamavam pelo nome, sabiam onde eu morava e resenhavam sobre Bahia e Vitória, ou seja, praticamente amigos de infância. Um desses "taxicêros", palavra existente apenas em Salvador, tinha uma filha estudante de publicidade. Eu comentava sempre com ele: "rapaz, você quer que sua filha chegue em casa às 23, 23:30, 0:00, 1:00?". Fiquei muito próximo também de outra "catiguria" como diz meu pai, a dos vigilantes. Poderia até seguir a veia política de minha família e virar sindicalista. Eles sempre perguntavam: "Eder, ficou mais alguém lá em cima?" ou então em tom irônico: "Já vai, Eder? Tá cedo, rapaz!".

Como tenho sonhado muito ultimamente, fico imaginando se Dorival Caymmi estivesse vivo e fosse convidado para tocar no festival mais badalado do mercado publicitário brasileiro, tenho certeza que ele, com sua característica malemolência, cantaria o seu clássico samba assim: "Vida de agência é difícil, é difícil como quê".

Mas, apesar disso tudo, amo o que faço e valorizo o que essa profissão instigante traz pra mim de bom. "Êta vida boa", né Armandinho?


Link do Ultraje: http://www.youtube.com/watch?v=AkV-TM_aQVs