domingo, 22 de novembro de 2009

Acenda o farol

Entre todas as formas de arte, a música é a que mais me atrai. Curto cinema, gosto de literatura, frequento pouco o teatro, mas só Ela bate no paladar.

Sou igual a Gil, "vivo o tempo todo com Ela". Acordo e vou de bolachão no café da manhã. Antes de sair, pausa obrigatória para a escolha dos biscoitos finos que serão degustados no carro, durante a labuta e na volta pra casa. O momento de decisão da trilha sonora diária não tem lógica como um Ipod Shuffle. Um dia, vou atrás do trio com Moraes, bato a cabeça com Sepultura e pulo com Brown. Em outro, posso swingar com Stevie Wonder, viajar com Mutantes e entrar na roda com Raimundos. Nessa mistura, um som do gordinho mais famoso da Tijuca tem um lugar especial na minha discoteca e estoura os auto falantes com frequência.

Lançada em 1978, a faixa número 2 do elepê "Disco Club" cai bem em qualquer situação. Se estou triste, a letra levanta o astral. Alegre, a batida faz o sorriso abrir e o corpo mexer involutariamente. Em 3'11", o Síndico traz um dos arranjos de cordas e metais mais inspirados de Lincoln Olivetti, acrescenta o baixão de Jamil Joanes e mistura com versos simples em um vocal limpo, grave e conquistador. O restante do álbum continua em alto e bom som como todo show de Tim, 50% de groove e 50% de romantismo, mas sem o brilho desta canção que merecia, sobretudo, levar o nome do disco.

Acendam o farol!

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Ativem o repeat e vejam a cabeleira black, ginga e estilo de Sebastião Rodrigues Maia em ação!

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Este post é dedicado ao meu amigo irmão Caio Mutti.

domingo, 8 de novembro de 2009

33 rotações

Lições de Seu Dorival


"O que rolar é bom"


Ceguinho na gaita


"Som na agulha no ritmo de uma procura"


Teen spirit

sábado, 10 de outubro de 2009

Tô cansado

"Tô cansado do meu cabelo
Tô cansado da minha cara
Tô cansado de coisa vulgar
Tô cansado de coisa rara
Tô cansado
Tô cansado
Tô cansado de me dar mal
Tô cansado de ser igual
Tô cansado de moralismo
Tô cansado de bacanal
Tô cansado
Tô cansado
Tô cansado de trabalhar
Tô cansado de me ferrar
Tô cansado de me cansar
Tô cansado de descansar
Tô cansado
Tô cansado" (Titãs, 80's)


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Queria voltar à segunda série, dormir depois do almoço, bater o baba no final da tarde na ladeira do Catavento e gritar "Bichos Escrotos"!

domingo, 20 de setembro de 2009

Tempo rei

Em 2003, eu e meu pai fomos numa dessas feiras de livros que acontecem no Centro de Convenções para ver as novidades no mercado editorial, circular pelos stands e ouvir algum debate literário. Recém-formado em comunicação e calouro no curso de Letras ao mesmo tempo, estava ávido por esse admirável mundo novo. Andei muito e, algumas horas depois, saí com apenas um exemplar! Era o bastante, pois se tratava de uma obra prima, "Bora Bahêeea!". Assim que meu pai viu o best seller, questionou a minha relação com a literatura e o porquê de não ter comprado diversos outros títulos interessantes que tínhamos visto no evento. O que estava em jogo ali não era uma discussão da Academia Brasileira de Letras, mas sim boleira porque o velho é chegado no vermelho e preto de Canabrava e detestou a publicação. Naquele ano erámos o atual Bi Campeão do Nordeste e estávamos na Série A, ou seja, a corja do Lixão não tinha nenhum argumento contra o Campeão dos Campeões.

Página virada, chego em casa e devoro o livro em poucos dias. Com um texto leve e agradável, o conceituado jornalista Bob Fernandes traz para o leitor entrevistas emocionantes com craques, cartolas e artistas e faz jus ao hino: "é assim que se resume a sua história". Como sou viciado em música, o capítulo dedicado a Gilberto Passos Gil Moreira foi especial para mim. Fiquei ainda mais fã do cara quando li este trecho: "O Bahia é o time da minha vida. Ele fica, mas vai comigo quando eu morrer, sempre em primeiro lugar.".

Passados alguns carnavais, eu e um bloco de amigos acompanhávamos o "Expresso 2222" desde o Farol quando o amigo de Caetano faz Ondina tremer mais do que as arquibancadas da Fonte Nova ao puxar o hino tricolor. Abraços, gritos, pulos e chuvas de cerveja por todos os lados. Gil marca um golaço naquele que seria o último dia do trio mais elétrico que já vi.

12 de setembro de 2009. O momento é outro. Não estou mais em 2003 muito menos nos anos de Bobô, Zé Carlos, Luiz Henrique, Naldinho e Nonato. "Que tempo bom, que não volta nunca mais". A realidade é outra: goleada da Portuguesa em casa, jogo sábado à tarde na segundona, cerveja sem álcool, jogadores ridículos e chuva na saída do estádio para acabar de vez com o sonho da 1ª Divisão. Com tudo isso na cabeça, começo a cantarolar "não me iludo, tudo permanecerá do jeito que tem sido, transcorrendo, transformando, tempo e espaço navegando, todos os sentidos...". Será que o ex Ministro da Cultura previu que os dirigentes iriam destruir o nosso time quando compôs esta letra? "Não se iludam, não me iludo, tudo agora mesmo pode estar por um segundo" continua Gil em seu poema e liga o alerta da Série C mais uma vez. O que nos resta agora é rezar e pedir ao Senhor do Bonfim para o Tempo Rei transformar as velhas formas do viver ou então "quem sabe o super-homem venha nos restituir a glória, mudando como um Deus o curso da história".

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Dias de janeiro

Era domingo. Pra ser mais preciso, 14/01/07. Acordo por volta das 12 horas e olho, sob o efeito da ressaca, o ambiente ao redor e não reconheço nada. Não encontro as torres de cd's, a placa de Olinda, os vinis, o Cavalinho, as fotos da galera nem a pretinha Dean. Assustado, verifico e percebo que não levaram meus rins nem estou numa banheira com gelo. Ufa! Salve, Jorge! Levanto do sofá, pé direito no chão e vejo meu primo jogado no chão com uma cara pior do que a minha. Lá ele! Em segundos, rebobino a fita da memória, aperto o play e as lembranças chegam em câmera lenta.

Relaxado, percebo que estou no Humaitá ao ler uma placa de rua, mas abro a janela e não vejo o Farol, o Forte nem a Baía de Todos os Santos. Reconheço a queda, mas não desanimo. Levanto, sacudo a poeira e dou a volta por cima ao enxergar a Lagoa Rodrigo de Freitas em um dia nublado apesar do verão carioca. Cabeça de gelo, pois alguns dias antes acompanhei o sol de 40 graus pelo Leblon, Ipanema, Copa e vi ele descansar de mais um dia de trabalho no Arpoador. Tá registrado, cumpádi!



Volto para o sofá e sigo para o meu ritual diário, pedindo proteção e saúde e agradecendo também. Enquanto procurava os santos, notei um papel em preto e branco com uma letra imensa de música e o verso "salve, poetas e compositores, salve também os escritores" soluciona o mistério. Na noite anterior, cruzei o Rebouças e as retinas baianas registraram o gigante Maraca, a aprazível Vila Mimosa, as luzes da Sapucaí e, enfim, a chegada ao Palácio do Samba.

Tenso por estar no pé do morro e sem Zé do Caroço pra me ajudar, começo a viagem pelo mundo verde e rosa. Faço um tour pela sala de trófeus, bato um papo com Cartola, reverencio os baluartes, pechincho uns souvenirs, compro uma gelada e piso na quadra. Com a visão além do alcance ligada, fotografo o Santo Guerreiro protegendo todos nós e o céu limpo sem nenhuma nuvem, passageira ou não. Os tambores começam a rufar, mas ainda é só uma preliminar da grande partida que será disputada naquela noite. Três sambas tocados, a temperatura começa a subir, as negras roubam os olhares e o surdo bate cada vez mais forte no meu peito. É hora da apoteose! Dezenas de tamborins, caixas, surdos, tons, um cavaco e um cantor convocam cariocas, turistas e globais pra se esbaldarem na sonzeira. Rock n' roll! Vibro com os clássicos, decoro o samba enredo daquele ano e só não fico pra Alvorada porque São Jorge tinha muito mais gente pra cuidar naquela noite.

Depois de rezar, acordo meu primo e comemoro o Dia D, 14/01/07.Vocês saberão logo o motivo. Como já eram quase 13 horas, reforço que não podemos perder tempo. Engolimos um fast food no Rio Sul, voltamos pro apartamento e poucas horas depois o letreiro ainda apagado de uma casa muito famosa fica cada vez mais próximo. São sete letras que trazem consigo muita tradição da música popular brasileira, C-A-N-E-C-Ã-O. Ansiedade, nervosismo, alegria e, principalmente, precaução se misturam até porque o ingresso do Setor A já estava garantido fazia dois meses. Desastrado e esquecido que sou, o máximo de cautela era o mínimo que poderia fazer para a comédia não virar tragédia. Apresento as entradas, faço alguns clicks do hall e vou logo para a minha mesa, afinal, um senhor de olhos azuis me esperava e minha mãe me ensinou que não se deve tratar mal os idosos.

O tal coroa ainda está em forma, escrevendo, compondo e cantando como nunca. Os versos da Mangueira já sinalizavam o que estava por vir: "salve, poetas e compositores, salve também os escritores". É bom lembrar que o velhinho também publica livros. Além disso, o homem é craque no futebol e é venerado por nove de cada dez mulheres brasileiras. Num bom baianês, miseravão! Seu nome? Não é necessário. Cito apenas o nome do show: "Carioca".

O espetáculo começa com "Voltei a Cantar" e os gritos dominam o Canecão. Em seguida, "Subúrbio" vem com tudo, integra o Rio de Janeiro por completo e os morros da cidade são evidenciados por uma iluminação cuidadosa. Na sequência, todas as músicas do álbum são tocadas intercaladas pelos grandes sucessos. Enquanto isso, o balde de cerveja insistia em esvaziar e os petiscos também. Fim do show. O Presidente do Politeama Futebol Clube se despede. "Falta quem te viu, quem te vê", comento com meu primo. Repito, insisto e digo que vou subir na cadeira se o camisa 9 do Clube Varonil tocar da música. "Vamos de samba?" diz o autor de Budapeste no microfone ao retornar ao palco e puxar os acordes da canção pedida. Nirvana! De quebra, ainda teve "Sem Compromisso" e "João e Maria". Em êxtase, ligo para contar aos amigos distantes a catarse, paro na Cobal de Botafogo e tomo um chopp pra distrair.

Para este final de semana ser perfeito, bastava Chico cantar "Piano na Mangueira", mas como não existe perfeição, fico sonhando como seria este momento. "Imagina, imagina...".

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Férias e vacaciones - 2

Com umas boas férias, tudo fica "jóia rara".

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Esta é a versão da turnê "Bicho Baile Show" na qual Caetano foi acompanhado pelo groove da Banda Black Rio.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ciúme

O ciúme segundo Eulálio d' Assumpção:

"Quando sair daqui, vou levá-la comigo a toda parte, não terei vergonha de você. Não vou criticar seus vestidos, seus modos, seu linguajar, nem mesmo seus assobios. Com o tempo aprendi que o ciúme é um sentimento para proclamar de peito aberto, no instante mesmo de sua origem. Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo mal fomenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe nos outros a culpa de sua feiura."

Chico Buarque em "Leite Derramado".

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Férias e vacaciones - Parte 1

Verão de 2007. Após um janeiro intenso de Ipanema, Angra dos Reis, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Praia do Forte, Porto da Barra e Praia do Flamengo, minhas primeiras férias de trabalho se encerravam com muito sol, suor e cerveja.

A partir daí os tãos sonhados trinta dias de ócio foram adiados por duas vezes devido à inquieta procura da batida perfeita empresarial. Quando planejava a próxima trip de verão, troquei a Ideia 3 pela Tempo Propaganda. No ano seguinte, decidi sentir frio em algum canto do Sul, mas a mudança para a Ladeira da Barra engavetou o projeto. Nesse período, procurei curtir os momentos de transição e os recessos com viagens para São Paulo, Rio de Janeiro e Aracaju e momentos de sossego na minha Baêa. Mas o ser humano é eternamente insatisfeito. Algo ainda estava faltando. A leveza característica, a maresia habitual, o descompromisso com tudo, o cochilo em qualquer hora do dia, o esquecimento de senhas e campanhas estavam muito longe de mim. Enfim, não era possível cantar "ando meio desligado".

Com um ano de casa nova, já era hora de atuar em mais um road movie. Passagens compradas, hospedagens reservadas, dinheiro no bolso, fé em Deus e pé na estrada! Já que o Tricolor de Aço não disputa um torneio internacional faz 20 anos, decidi por conta própria disputar a Libertadores. Destino: São Paulo, Argentina e Porto Alegre.

O primeiro jogo acontece na terra da garoa. Apesar de ser a sexta vez que a visito, São Paulo sempre traz surpresas. Saio bem cedo de Salvador, chego de rango no Aeroporto de Guarulhos e vou direto para um ambiente bem paulistano, a gordurosa padoca. Lá, devoro o tradicional pão de mortadela com uma dose de 500 ml de vitamina C, ouço o sotaque dos manos e começo a sentir na pele a mudança do inverno baiano de 30 graus para os míseros 15 da capital paulista. Em seguida, vou em uma típica feira de sábado e tento lembrar a última vez que fui numa em Salvador, mas não consigo. De rolê pela rua, percebo os feirantes tentando atrair os transeuntes com os seus chavões, experimento umas frutas esquisitas, detono mais uma iguaria local - o pastel de carne - e me assusto quando vejo uma placa vendendo um suposto "tempero baiano". Paro e pergunto: "o que tem nesse tempero?". Resposta: manjericão, pimenta calabresa, cebolinha e salsa batidos no liquidificador!!! Algum baiano já fez alguma moqueca, caruru ou sarapatel com isso?

Enfim, chega a hora de curtir o que SP oferece de melhor, a sua noite. Os trabalhos se iniciam com um "esquenta" no Bardot na Vila Olímpia acompanhado do chope Brahma cremoso, ambiente agradável, mesa cheia e conversa boa. Esquente feito, parti para o grand finale e como bom articulador socioetílico que sou, defino o reggae e junto baianos e paulistas na mesma balada. Vamos para o Grazie a Dio e ouvimos o melhor do funk, soul, samba-rock e groove com ninguém menos que a Banda Black Rio, mô pai. Assim que entramos, a big band estava suingando com "Carrossel" e me lembro Dela.

Domingão, dia de sol, praia e mar. Oxe! "O sonho acabou" já dizia Gil há 40 anos e já são 12 horas de relógio. Eu e Meireles descemos para mais um dia de pauta cheia: jogo do Brasil na casa de Camila, samba na Vila Madalena e a saideira de costume. Chegamos na Rua Blumenau no número 166 e vejo o quanto a faculdade foi importante pra mim. Ao entrar na casa aconchegante aos gritos de "Bora Baêa, minha porra", reencontro os amigos separados pelo destino. O trio Mila, Luís e a sarada Madá, Paulo, Fabrício e Bruno e sua Michele. Faltou apenas Massaranduba que estava em SSA. Após levantar a taça de Bi Campeão das Confederações, caio no swing com um power trio de samba - violão, pandeiro e baixão - acompanhado dos primos Rodrigo, Renata e Madson (!). Com todas as cadeiras sobre as mesas e o segurança solicitando a nossa saída, notamos que a missão estava cumprida e restava apenas a derradeira. Atravessamos a rua, pedimos um balde e mais um reencontro de alegria surge tão espontâneo quanto o ruído da cuíca ao entrar num samba.

Próximo capítulo: Buenos Aires.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Nem vem que não tem

Ontem fui mais uma vez ao cinema após sair do trabalho, programa que, devido à comodidade automotiva, tenho feito com certa regularidade. Voltei a sentir prazer em ir à sala escura e apreciar uma boa película.

Nessa retomada, tenho escolhido as salas de arte de preferência. É claro que os shoppings oferecem um mix completo de serviços, mas o Lado B sempre me acompanha. Redescobri o Cinema do Museu, o qual tinha ido uma única vez em uma excursão do colégio para o Museu Geológico na 5ª série, e o Espaço Unibanco de Cinema ou Cine Glauber Rocha para os saudosistas. Frequentar esses espaços remete-me à infância em que curtia os filmes de Os Trapalhões nos cinemas da Carlos Gomes, Politeama e no próprio Cine Glauber. Lembro-me também da época de estudante da UFBA quando conheci as salas Walter da Silveira, do MAM e da UFBA. Além disso, o roteiro do longa muda do formato "Bob´s-lojas-blockbuster" para "cafeteria-livraria-filme cult". Sem falar nos ambientes que são muito mais aconchegantes e confortáveis. Qual cena ganharia o Oscar de melhor fotografia? A vista do Espaço Unibanco ou a praça de alimentação do Multiplex Iguatemi?

Mas vamos voltar à pilantragem. Assisti "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei", documentário dirigido por Cláudio "Seu Creysson" Manoel. Como conheço um pouco da obra do Simona, já tinha lido muita coisa sobre o negão, mas visto poucos vídeos. Durante a sessão, fiquei emocionado com as imagens e depoimentos de Chico Anysio, Nelson Motta e Ziraldo entre tantas outras figuras importantes. Com um roteiro impecável, o filme disseca o pai de Simoninha e Max de Castro. Coube tudo nos 86 minutos de "alegria, alegria". A musicalidade genial, o timbre inconfundível de sua voz, o swing de preto, a presença de palco como nunca tinha se visto, o humor espontâneo, a ingenuidade, a máscara que deixa qualquer boleiro de hoje no banco de reserva e o deslumbramento com o sucesso.

Por outro lado, o longa também aborda outras questões que acompanharam a trajetória do primeiro pop star negro brasileiro. O preconceito das elites, o denuncismo escroto da imprensa nacional, a covardia e indiferença dos músicos e a ignorância da esquerda dita progressista e revolucionária. Caetano definiu bem esses intelectuais em "É proibido proibir": "mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?".

Pra não "deixar cair", segue abaixo o trailer que deixará vocês com água na boca para comprar a pipoca e o refrigerante.



Este texto foi escrito ouvindo "ALEGRIA, ALEGRIA vol. 2 ou quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga".

terça-feira, 19 de maio de 2009

Os Arcos no Rio da Vila

Eu adoro viajar. Aliás, quem não gosta? Sempre que posso, busco outros ares fora de Salvador. Até porque suportar a mesmice perene da cena cultural soteropolitana é complicado. Como tenho parentes em vários cantos do Brasil e trabalho com fornecedores em todo o país, sempre sou questionado da vida boa que levamos na nossa capital. As pessoas acham que aqui é verão o ano inteiro, com praias lotadas, sol de quarenta graus e ensaios de blocos todos os dias. Não, amigos, na boa terra "o sistema é bruto".

Para ter meus dias de Bruno de Luca, faço um esforço da porra. Parcelo as passagens no cartão, durmo na casa de primos, almoço em "cai duro", pego buzu e metrô e pesquiso hotéis baratos na internet. Afinal, "dinheiro na mão é vendaval".

Nestas minhas andanças, sempre encontro lugares que me identifico e relaciono com outros já visitados. Beber uma gelada na calçada do Bar Urca me fez lembrar das tardes de sorvete na Ribeira. O Brasil desce a ladeira com a mesma malemolência no Pelô e em Ouro Preto. O samba-rock come no centro no UK Pub de Boa Viagem, Diquinta em Sampa e Amicis em Fortaleza. Mas dedicarei algumas linhas a estes trigêmeos separados no nascimento: Vila Madalena, Lapa e o meu querido Red River.

A boêmia está na raiz destes picos e é encontrada de segunda a segunda nos bares do Largo de Santana, Rua dos Arcos e esquinas da Vila. Tudo ao mesmo tempo agora. Botecos roots, casas temáticas e barzinhos da moda. Skol de garrafa, Chopp Brahma e cerveja Premium. Churrasco de gato, comida de boteco e menu internacional. Andando com fé, eu vou de um em um e me imagino com sapato bicolor, calça e paletó brancos e chapéu panamá.

Mas a boêmia não está sozinha. Ela não sobrevive sem a sua irmã, a Música. Não existe malandro sem samba. É nesse ponto que baianos, cariocas e paulistanos se destacam. Decidir qual som curtir pode ser uma tarefa difícil na night. Samba-rock, eletrônico, partido alto, mpb ou rock n' roll? Por via das dúvidas, eu uso o Coringa e participo de todas as jogadas.

Para fechar o pacote de viagem, não poderia deixar de mencionar o ponto que mais me fascina na Lapa, Rio Vermelho e Vila Madalena: a diversidade. Uma noite em qualquer um destes locais é um exercício de antropologia ao vivo. Alternativos, playboys, putas, nerds, gays, rockeiros e patricinhas circulam no mesmo CEP "numa relax, numa tranquila, numa boa" procurando "o caminho do bem".

Dicas:
Lapa - Rio Scenarium, Carioca da Gema e, claro, Circo Voador.
Rio Vermelho - Boomerangue, Jequitibar e Companhia da Pizza.
Vila Madalena - Salve Jorge, São Cristóvão e Municipal.

sábado, 9 de maio de 2009

Eu tou cansado dessa merda

Mesmo com toda essa merda, vou sendo feliz à procura da batida perfeita.

"Nêgo!Eu tou cansado desta merda
Da violência que desmede tudo
Da minha liberdade clandestina
De ta no meio dessa briga
Chega!Da gente tá se apertando
Da ignorância insandecida
Se esquivando de estatísticas

A minha paz, faz tempo, ta querendo trégua
A minha paciência se atracou como ela

Eita!Que o sangue pinga nas notícias
Vendidas como coisa bela
A merda já tá no pescoço
E a gente acostumou com ela

Nunca se sabe o que vai acontecer
Nunca se sabe, pode acontecer

Nêgo! A máquina acordou com fome
Vem detonando tudo em sua frente
Comendo ferro, carne e pano
Bebendo sangue e gasolina
Eita!Sentenciado ao absurdo
De merda em merda emergindo
Um dia afoga todo mundo
E assim acaba a caganeira" (Fábio Trummer)

Assistam: 29/05 - Eddie na Boomerangue.
Ouçam e leiam: http://www.myspace.com/bandaeddie

Momentos

Dando continuidade ao sonho das lentes, divido com vocês mais alguns cliques na boa terra e em Sampa.

"Quando o sol se põe, vem o farol iluminar as águas da Bahia"


"A Praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião"

Viva Dodô e Osmar?

"Stairway to Heaven"

"A cidade não para, a cidade só cresce"
"Tem amor de mercado que se compra no supermercado do amor"

"Triste Bahia, oh quão desemelhante"

"Guiné Bissau, Moçambique e Angola"

"Pituaçu, meu caldeirããão"


domingo, 12 de abril de 2009

Abril Pro Rock

O rock entrou em minha vida quase ao mesmo tempo em que o Abril Pro Rock surgia. Nesses anos, eu e o evento crescemos, abrimos nossas mentes para outros sons e nos profissionalizamos. Ano após ano, eu acompanhava daqui da província baiana essa evolução e a vontade de conhecer o primo rico do Garage Rock aumentava cada vez mais. Pela MTV, outra contemporânea, vi trechos de shows memoráveis como Chico Science e Nação Zumbi, Soulfly, Tom Zé, Orquestra Imperial e muitas outras bandas.

Em 2007, após algumas negociações no trabalho, ajuste de contas e planejamento de viagem, saí do insuportável marasmo de Salvador entre o carnaval e o São João e pousei na capital do mangue beat. Faltava pouco para realizar o desejo adolescente de conhecer o festival independente mais importante da região. Depois de um dia de sol e boêmia pelas ruas de Olinda, chego ao Centro de Convenções para o dia D. Ao entrar no local, deparo-me com um caranguejo gigante e fico à vontade em meu habitat. Desde o primeiro dia até o terceiro, as minhas reações foram diversas: emocionado ao presenciar o reencontro dos Mutantes; extasiado com a jam session de Marky Ramone e João Gordo; nostálgico no show Ratos de Porão ao manter distância da temida roda punk; surpreso com o som do O Quarto das Cinzas de Fortaleza; alegre na performance ilária dos The Playboys e dançante com a metaleira da Orquestra Contemporânea de Olinda.

No ano seguinte, parto para o próximo disco. Igual a todos os segundos álbuns de carreira, a crítica é sempre exigente e a expectativa alta. Porém, Paulo André sabia disso e não decepcionou. Trouxe dinossauro do punk, o New York Dolls, clássico do hardcore, Bad Brains, ícones do underground brasileiro, Autoramas, Zumbis do Espaço e Wander Wildner, nome novo do cenário independente, Pata de Elefante, bandas locais, atrações inusitadas como Céu e Lobão que encerrou o evento com um show do caralho! O local foi outro dessa vez, o Chevrolet Hall, mas o ambiente, a energia do público e a convivência pacífica de várias tribos foi a mesma.
Em 2008, o festival teve apenas dois dias, pois a terceira data seria em maio com um show de metal. Por causa disso, o power trio - eu, Rodrigo e Rubens - entrou no palco novamente para mais uma noite entre os rios, pontes e overdrives. Fazendo "um passeio pelo mundo livre", descobrimos a qualidade e diversidade das casas locais e fomos para um bar curtir mais rock, ou melhor, samba-rock. Encerramos a turnê de 2008 em grande estilo sem frevo, mangue beat ou rock, mas com muito samba e chopp gelado como o da foto.

Neste ano, o abril continuou sendo de rock, mas em outra arena. Com exceção do Motorhead, não curti a grade de programação do Abril Pro Rock 2009. Então, troquei Recife pela Meca do barulho nacional. A mudança não foi apenas geográfica, mas principalmente de estilo. Depois de dois anos no circuito alternativo, retornei ao mainstream em todos os sentidos. De palcos pequenos para o sambódromo paulistano, do experimental ao hard rock, refletores tímidos se transformaram em telões de última geração e, finalmente, do Mukeka di Rato para o KISS.

Em 2005, assisti Lenny Kravitz no Pacaembu. Ansioso pelo show, devorava todas as informações sobre o mesmo. Numa das entrevistas, o cantor disse que a iluminação e produção da sua turnê tinham como inspiração os grandes concertos do Kiss. Apesar de já ter assistido diversos clipes da banda, não fazia idéia do que seria um espetáculo desse ao vivo. Quatro anos se passaram e eu estava a pouco metros de Stanley e Simmons para saber se Lenny tinha razão. Não havia local mais apropriado para a apresentação dos caras pintadas, pois o show foi mais apoteótico do que o desfile das escolas de samba, a explosão das bombas e fogos era tão sincronizada quanto as batidas das baterias, efeitos pirotécnicos de cair o queixo e, claro, uma musicalidade simples e absurda! Foram duas horas de puro rock n' roll com muitos hits e também algumas faixas Lado B. Apesar do som estar ruim, o vídeo abaixo mostra um pouco do que escrevi aqui.


Sedento por rock n' roll, volto pra boa terra e decido continuar a temporada rocker. O calendário apontava 10/04/09, sexta-feira da paixão. Rock em plena sexta-feira santa é coisa do capeta? Então vamos para o "Hell Private Club"! Cascadura! Volto para a realidade e aproveito tudo o que o underground oferece de melhor, música boa e alta no ouvido

É por isso que Jagger canta há anos "It´s only rock n' roll, but I like it"

sábado, 4 de abril de 2009

Vida de publicitário

Mais uma vez, convoco o inútil Roger para colaborar com O cérebro eletrônico. Nada mais adequado até porque o craque do Rockgol é conhecido não só por cantar versos singelos como "é tudo filho da puta" ou "eu vou enfiar um palavrão", mas também pelo seu elevado QI. Após trocar algumas idéias com ele e desabafar sobre a rotina do publicitário baiano, o compositor de "Marylou"escreveu este belo poema:

"Todo dia essa é a minha labuta
Eu trabalho feito um fila-da-puta
Pelo menos se eu estivesse mais rico
Mas que nada estou pedindo penico

Domingo eu vou pra praia
Domingo eu vou pra praia
Pode parar tudo eu vou pra praia"

Como sempre, meu amigo tricolor paulista acertou em cheio, ou melhor, no target. Esse é o way of life da propaganda soteropolitana e acredito que seja também das outras cidades. Material fora do prazo, clientes sem planejamento, prospecções, concorrências e jobs urgentes nos fazem passar horas a mais na agência com uma frequência média tão elevada quanto um planejamento de mídia das Casas Bahia.

Antes de eu comprar o carro, conhecia todos os taxistas da companhia que trabalhavam à noite. Eles já me chamavam pelo nome, sabiam onde eu morava e resenhavam sobre Bahia e Vitória, ou seja, praticamente amigos de infância. Um desses "taxicêros", palavra existente apenas em Salvador, tinha uma filha estudante de publicidade. Eu comentava sempre com ele: "rapaz, você quer que sua filha chegue em casa às 23, 23:30, 0:00, 1:00?". Fiquei muito próximo também de outra "catiguria" como diz meu pai, a dos vigilantes. Poderia até seguir a veia política de minha família e virar sindicalista. Eles sempre perguntavam: "Eder, ficou mais alguém lá em cima?" ou então em tom irônico: "Já vai, Eder? Tá cedo, rapaz!".

Como tenho sonhado muito ultimamente, fico imaginando se Dorival Caymmi estivesse vivo e fosse convidado para tocar no festival mais badalado do mercado publicitário brasileiro, tenho certeza que ele, com sua característica malemolência, cantaria o seu clássico samba assim: "Vida de agência é difícil, é difícil como quê".

Mas, apesar disso tudo, amo o que faço e valorizo o que essa profissão instigante traz pra mim de bom. "Êta vida boa", né Armandinho?


Link do Ultraje: http://www.youtube.com/watch?v=AkV-TM_aQVs

domingo, 29 de março de 2009

Salve, Salvador

Sempre admirei fotografia, mas nunca pesquisei essa arte em profundidade apesar de sempre sonhar em fazer um curso para aprender a dominar as lentes. Neste sonho também existia uma vontade de retratar algumas cenas do dia-a-dia de Salvador. Recentemente, comprei um celular cheio de "guéri-guéri" que permite bater umas fotos decentes. Enquanto o curso e a máquina não chegam, o LG quebra o galho. Vejam abaixo o primeiro registro. Fiquem à vontade para criticar e, se possível, elogiar.
"Verde, azul, um espelho do céu"
"E na hora no Porto da Barra fica elétrico"

"Onda, Ondina, Pituba, Amarina, ah, ah"

"À procura da batida perfeita"
"Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar"

"Com o bucho mais cheio comecei a pensar"

Outros sonhos

"Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava
Quando me via
Sonhei que ao meio-dia
Havia intenso luar
E o povo se embevecia
Se empetecava João
Se impiriquitava Maria
Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia

Belo e sereno era o som
Que lá no morro se ouvia
Eu sei que o sonho era bom
Porque ela sorria
Até quando chovia
Guris inertes no chão
Falavam de astronomia
E me jurava o diabo
Que Deus existia
De mão em mão o ladrão
Relógios distribuía
E a polícia já não batia
De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias

Soñé que el fuego heló
Soñé que la nieve ardia
Y por soñar lo impossible, ay, ay
Soñe que tu me querias." (Chico Buarque)

No meio dessa loucura que vivemos atualmente, nada melhor do que sonhar um pouco. ZZZZZ

segunda-feira, 23 de março de 2009

Mancha de dendê não sai

Como bom baiano, sou viciado em acarajé. Fui infectado pelo vírus do dendê ainda criança. Nessa época, o bolinho de feijão atuava ainda como ator coadjuvante no filme do meu paladar. Outras guloseimas como o Big Sundae, Ruffles e Chocolate Surpresa eram os protagonistas. Antes restrito aos momentos no clube e praia da velha infância, o quitute frito passou a estar presente em todos os momentos de minha vida e meu corpo pedia sempre mais. Estou para o dendê como Zeca Pagodinho está para a cerveja. Aliás, aprecio muito também essa moça chamada Cevada.

O período em que enfiei o pé na jaca, ou melhor, no azeite ocorreu durante a faculdade. Estagiei por dois anos em uma agência no Rio Vermelho, reduto maior das baianas. Todos os dias quando saía do trabalho, travava uma luta interna com o meu estômago insaciável para resistir à tentação. Seduzido por aquele cheiro, que faz levitar qualquer personagem de desenho animado, a cada dia comia em um tabuleiro diferente.

Conhecedor de Salvador como poucos, o malandro Riachão canta perfeitamente a magia dessa iguaria: "é o retrato fiel da Bahia, baiana vendendo alegria, coisinha gostosa de dendê, acarajé, ô, ô, ô, ô". O acarajé relaxa após um dia intenso no trabalho, apaixona num final de tarde no Rio Vermelho, Barra ou Solar do Unhão, reúne os amigos numa mesa de bar, recarrega as energias do Carnaval e encanta paulistas, ingleses e japoneses. Desta forma, nem a clínica de Amy me reabilita mais desse vício.

Hoje meu paladar está exigente e estou igual a Tim Maia. Só compro "du bão" com pimenta, vatapá e salada. Para provar isso e criar polêmica, deixo para o leitor um saboroso Top 5 e defendo que acarajé de verdade é no papel verde. Cortado e no prato é coisa de amador.

1 - Regina (Rio Vermelho ou Graça).
2 - Cira (Itapuã ou Rio Vermelho).
3 - Olga (ACM próxima à Igreja Batista).
4 - Laura (Av. Paulo VI em frente ao Hiper Ideal).
5 - "Extra" (Paralela).


quinta-feira, 12 de março de 2009

Uma tarde em Itapuã

16:00! Estou atrasado. Arrumo a mochila, ajeito a roupa e o pouco cabelo que me resta e me despeço dos colegas. Destino: Itapuã. Como estava na Barra e o sol brilhava sobre o mar, segui pela Ladeira da Barra, Avenida Oceânica e Ondina. Uma música da A Cor do Som definia bem o momento: "na cidade, o caminho é sempre melhor pela beira do mar".

Volto pro asfalto e o trânsito de sempre atrasa a chegada. Após 1 hora e 20 minutos, passo pela casa de Juvená e viro à direita. Estaciono o carro e volto depois de quatro anos para um dos hotéis mais tradicionais da cidade que o poetinha escolheu para viver com sua Gessy. Sonhei logo com uma água de coco na beira da praia. Mas a razão subiu pra cabeça mais rápido do que um gancho de Popó. Estava ali a trabalho.

Como de costume, a reunião foi árdua com tudo a que temos direito: questionamentos, comentários irônicos, redução da verba e soluções assertivas apresentadas pela agência. Baiano bota pra fuder. Ainda mais baiano publicitário.

19:30. Cansado, vejo novamente a casa de Juvená e decido voltar pela praia pra descansar a mente. Na primeira curva, me deparo com uma cena de cinema. "Lua de São Jorge, brilha sobre os mares". Ela estava lá, "cheia, branca, inteira", iluminando o mar de Itapuã. Poucos metros depois, encontro o diplomata mais boêmio do Brasil contemplando a paisagem. Não resisto, dou uma volta pela praça e aprecio tudo de novo. Chico sabe das coisas: "é preciso conservar o olhar de turista sobre nossa cidade".

Com essa idéia na cabeça, cruzo Itapuã no estilo cheque-tartaruga. Paro em Cira e devoro um acarajé crocante de pimenta virada na porra, vatapá cremoso e salada temperada. Sigo o caminho e vejo que o Língua de Prata, o parque de diversões, o Bar de Mamão, o fedor de peixe, o pirateiro, a igrejinha, a Topic lotada, o mercado sujo e, claro, a sereia continuam lá. E que seja assim pra sempre!

Para terminar, sonho com muitas tardes em Itapuã iguais a esta cantada por Toquinho e Vinícius nesse show antológico na Itália: http://www.youtube.com/watch?v=gfwCMV-MkA4


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O que eu quero, eu vou conseguir

"Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria"

Composição: Frejat/ Cazuza

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Campeão dos Campeões

Não vivo sem música. Apesar de ser um título batido de comunidade no Orkut, afirmo isso sem ser pego no detector de mentira. Na mesma proporção, também não respiro sem futebol. Todos os dias antes de dormir, deveria agradecer aos emissores dos primeiros ruídos sonoros e a Charles Miller por terem criado essas dádivas da humanidade. Muito da minha personalidade está ligada ao som e a boleragem. Por tudo isso, defendo que Lamartine Babo e seus súditos tenham lugar garantido na categoria dos mestres por juntarem no mesmo gramado a melodia e o esporte mais popular do mundo.

Já que o papo é hino de futebol, sou um felizardo porque o Tricolor de Aço tem um dos mais bonitos do Brasil, fato reconhecido até mesmo pelos rivais. Composto por Adroaldo Ribeiro Costa e Agenor Gomes e executado pela banda do Corpo de Bombeiros, este clássico já foi gravado por artistas como Trio Elétrico Armandinho Dodô e Osmar, Caetano Veloso e Luiz Caldas. Comprovem: http://www.youtube.com/watch?v=GVDMul6zx5g&feature=related

Mas nesse texto vou comentar uma outra música, a qual tem status de hino para os tricolores e define muito bem o que é torcer para o Esporte Clube Bahia. Com vocês, "Campeão dos Campeões".

"Quem é o campeão dos campeões? É o Bahia"

Os redatores que me perdoem, mas muitas vezes, as imagens têm o poder de definir muito melhor um fato do que um texto. Vejam essa obra de arte retirada da galeria do http://www.baheaminhaporra.com/.

"Quem é que carrega os multidões? É o Bahia"

Neste ponto, o Bahia é insuperável. Na épica partida entre os tricolores baiano e carioca em 1988, a Fonte Nova lotou com mais de 110 mil pagantes. Com 8 anos de idade, esta semifinal foi um dos poucos jogos que não fui naquele ano, pois meu pai, com muita prudência, não deixou uma criança enfrentar aquele mar de gente. Em 2007 na Série C, ajudei o Baêa a conseguir a maior média de público em todas as divisões. Ressalto que torcidas mais numerosas como a do Flamengo, Corinthians e São Paulo não chegaram nem perto da massa tricolor. Atualmente, Pituaço está arrastando mais de 17 mil torcedores por jogo. O azul, vermelho e branco voltaram a colorir as nossas avenidas e os gritos de guerra ecoam novamente por toda a Salvador.

"Quem é que tranquiliza os corações? É o Bahia"

Com Rubens Cardoso, Patrício, Helton, Léo Medeiros e grande elenco, o Bahia voltou a goleiar, virar partidas, decidir o jogo e reduzir o número de infartos em Salvador.

"Time de raça e tradições, Bahia campeão dos campeões"

Nesta semana, o maior do Nordeste comemora 20 anos do título de Bi-Campeão Brasileiro. Revendo os lances, gols, depoimentos e textos, não resisti. Chorei.
"O nosso time está numa nova arrancada, este ano não tem zebra não tem nada"

Se Renato Russo estivesse vivo, cantaria "Ainda é cedo" no Festival de Verão para retratar a nova fase do único Bi-Campeão Brasileiro do Nordeste. Concordo com ele e sei que o nível do Campeonato Baiano não é elevado, mas os sinas de mudança e avanço já são percebidos. O time tem outra cara, com mais pegada, habilidade e postura de vencedor. A taça do Baianão de 2009 vai para Itinga!

"O Bahia é o clube do povo"

Ser baiano é sinônimo de ser Baêa. Alguém duvida disso? A relação entre as duas partes é tão próxima que levou Boka a indagar Roque em "Ó, paí, ó": "Você é Bahia ou você é Vitória, afro?".
O time leva as cores e bandeira do estado no escudo. Os torcedores são miscigenados, fiéis a todos os santos e orixás, batalhadores, sofrem, mas não perdem a esperança como bons baianos. E ainda fazemos carnaval fora de época quando conquistamos os nossos títulos.
"Domingo estarei aqui de novo"

No próximo jogo, enfrentarei engarrafamento na Paralela, fila pra passar o cartão na catraca e cerveja quente no bar, mas irei encarar tudo isso com muita alegria para ver o meu Baêa brocar mais um timeco em Pituaço. BORA BAÊA MINHA PORRA!!!
Pra soltar o grito, curtam "Campeão dos Campeões" na versão de uma banda JAPONESA chamada Novos Naniwanos: http://www.youtube.com/watch?v=hqmyE59nzQU

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Rodo cotidiano

Faz pouco mais de um ano que tenho sentido uma dor incômoda em meu ombro direito. A camisa aperta, a paletada da guitarra sai sem pegada, o msn cansa e a marcação no baba está mais fraca do que a zaga do Vitorinha.

No início do ano, fui novamente ao ortopedista, fiz mais exames e o diagnóstico permaneceu o mesmo: bursite e tendinose. Voltei ao ortopedista para saber qual seria a solução para não virar uma espécie de Robocop. Primeiro, procurei entender os motivos que levaram ao resultado assustador. Fala Doutor: "Eder, você é estressado?". Após alguns esclarecimentos técnicos, ficou claro que a tensão do cotidiano levou às inflamações. Como já não tenho 20 e poucos anos e sim 20 e tantos, decidi que vou tirar esse job da pauta logo e decretei 2009 o Ano Zen. O pulso ainda pulsa.

Para o meu projeto obter sucesso, resolvi intensificar a acupuntura, voltar pro RPG, tentar dormir mais e fazer algo inédito, caminhar. Esta nova rotina ora lembra a de Ronaldo Fenômeno no Corinthians e em outra a de sexagenários com osteoporose. Prefiro pensar que estou no primeiro grupo e chego a conclusão que deveria ter ouvido mais o bordão de Paulo Cintura: "saúde é o que interessa, o resto não tem pressa. Yeah-Yeah!".

Uma outra mudança tem colaborado bastante na minha recuperação, a de endereço comercial. Não me refiro a nenhuma empresa pela qual passei, mas sim ao endereço literalmente. Passei mais de quatro anos trabalhando em empresas situadas na Avenida Tancredo Neves e adjacências, região onde se situam as principais agências de propaganda de Salvador. Vivenciei o caos instalado antes, durante e após a inauguração do Salvador Shopping, o aumento do fluxo de veículos e pedestres, a construção de novos prédios, a tomada das passarelas pelos ambulantes, a demora no ponto de ônibus e a crescente temperatura. Apesar de morar perto do escritório, o ir e vir de casa para o trabalho era estressante ao extremo. Além do mais, na Avenida Paulista provinciana só se vê prédios comerciais, estacionamentos, shopping center e pessoas agoniadas se batendo de um lado para o outro. Hoje, estou convicto de que esse contexto influenciou diretamente no meu estado de saúde atual.

Desde julho do ano passado, migrei para a Barra. No início, achei distante de minha casa já que moro em Brotas, mas logo aprendi os diversos caminhos para chegar na agência sem estresse. A partir daí, passei a aproveitar as coisas simples que o logradouro mais tradicional de Salvador oferece. Seguem algumas: tomar um chopp no Pereira, comer uma maniçoba no Porto da Barra, ouvir um vinil no Galego, degustar o melhor acarajé do mundo feito por Regina, visitar o Pelourinho às terças-feiras, almoçar no Largo 2 de Julho ou Comércio, ir ao TCA e Concha Acústica sem confusão e tomar um sorvete na A Cubana ou Perini da Graça. Não vou contar tudo senão o ex-presidente do Brasil vai querer se mudar pra cá.

É como disse bem o meu amigo Vinícius no post anterior, "é preciso ganhar dinheiro com poesia".

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Para viver um grande amor

"Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso.
Muita seriedade e pouco riso, para viver um grande amor.
Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher.
Pois ser de muitas, pôxa!, é pra quem quer, nem tem nenhum valor.
Pra viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro, seja lá como for.
Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada
E portar-se de fora com uma espada para viver um grande amor.

Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia

Para viver um grande amor direito, não basta apenas ser um bom sujeito.
É preciso também ter muito peito, peito de remador.
É sempre necessário ter em vista um crédito de rosas no florista, Muito mais, muito mais que na modista!
Para viver um grande amor. Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, Molhos, filés com fritas - comidinhas para depois do amor.
E o que há de melhor que ir para a cozinha e preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha para o seu grande amor?

Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto,
E até ser, se possível, um só defunto pra não morrer de dor.
É preciso um cuidado permanente não só com o corpo, mas também com a mente,
Pois qualquer "baixo" seu a amada sente e esfria um pouco o amor.
Há que ser bem cortês sem cortesia, doce e conciliador sem covardia. Saber ganhar dinheiro com poesia, não ser um ganhador.
Mas tudo isso não adianta nada se nesta selva escura e desvairada
Não se souber achar a grande amada para viver um grande amor." (Toquinho e Vinícius)


Ô tarefa difícil...

sábado, 17 de janeiro de 2009

Eu sou o Carnaval em cada esquina - Fim da trilogia

Os dois primeiros textos desta série relataram a minha relação de ódio com o Carnaval. Como num romance juvenil, onde briga-se com a colega de sala todos os dias no colégio, mas no final o amor sempre reina, comecei a paquerar o Carnaval. Com os hormônios em alvoroço, os solos da guitarra baiana começaram a tomar conta do coração antes ocupado por riffs distorcidos.

Nesta fase de conquista, fui seduzido primeiro pela beleza da festa. Linda! Refiro-me às meninas baianas, garotas de ipanema, gurias do sul e maravilhas de todo o Brasil. O lado lúdico do Rei Momo ainda não fazia a minha cabeça. Luiz Caldas tem um refrão que descreve bem o lema da época: "eu quero beijo, beijo, beijo, beijo, beijo, quero te beijar".

O objetivo era vencer sempre de goleada dos adversários. O time jogava pra frente no esquema 0-0-11 e todos queriam ser o camisa 9. As partidas eram disputadas e duravam muito mais do que noventa minutos. Se o baba fosse na praia entre a Barra e Ondina, a busca pela artilharia durava 5 horas. Agora, se o jogo fosse na quadra do Campo Grande, mermão, o cronômetro marcava até 7, 8 horas. E tome gol! O importante era ter um saldo positivo sem se importar com gol bonito ou feio. Salve, Túlio Maravilha! Aliás, não existe nenhum boleiro que só tenha feito gol de placa.

Antes do campeonato começar em fevereiro, havia a pré-temporada na qual escolhia a equipe em que iria jogar. A decisão era criteriosa. Analisava o desempenho do time no ano anterior, o preço, o mando de campo - Orla ou Avenida - e o comandante do elenco - Banda Eva, Araketu, Cheiro de Amor entre tantos outros nomes. Nestes anos, vesti diversas camisas, A Barca, Nú Outro Eva, Cerveja & Cia, Cheiro de Amor e Camaleão, e nunca desapontei a torcida em nenhuma delas.

Após paquerar e ficar várias vezes com a maior festa do mundo, resolvi assumir o namoro. Com o aumento da intimidade, passei a perceber outras qualidades da pessoa amada e aquela paixão inicial deu lugar a um relacionamento maduro. Descobri o Carnaval de verdade ao acompanhar na pipoca os trios e artistas que realmente curtia - Armandinho, Dodô e Osmar, Expresso 2222, Daniela Mercury, Carlinhos Brown e Margarete Menezes. Neste circuito independente, pulei solto sem se preocupar com cordeiros ou seguranças, vesti as roupas que quis e não precisei usar a mesma camisa que outras três mil, não paguei nada, entendi o significado das palavras energia, fé e diversidade e as via ao meu lado o tempo todo, contemplei o espetáculo da multidão ávida por alegria, ouvi e chorei com apresentações memoráveis dos músicos mais fodões do Brasil como Pepeu e Armandinho, Gil e Jorge, Daniela e Lenine, Arnaldo Antunes e Davi Moraes e Caetano com Samuel Rosa.

Por outro lado, os defeitos do companheiro numa relação a dois sempre aparecem e ficam cada vez mais evidentes. Já pensei em dar um tempo, fazer uma viagem ou até ser infiel e conhecer as festas de Recife ou Rio de Janeiro, mas acho que vou mesmo é pedir o divórcio do Carnaval de Salvador. A mesmice, falta de criatividade, incompetência, disparidade, ostentação, ganância, futilidade, intolerância, falta de respeito e preconceito de todos chegaram a níveis absurdos.

Infelizmente, depois de seis dias de êxtase, chega a quarta-feira de cinzas. Mas, prefiro terminar em alta igual aos confetes e serpentinas lançados no ar. Para isso, nada melhor do que citar uma das bandas mais importantes do Carnaval de Salvador, os Novos Baianos, e imaginar como seria o verso de Galvão "minha carne é de Carnaval, meu coração é igual" saindo da Boca de Cantor numa época em que não vivi, a Castro Alves abarrotada num encontro de trios às 05 horas da manhã.

Este texto é dedicado ao meu amigo Jow e aos Galindos, a família mais foliã do mundo.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Feliz 2009

Sutil como Rocky Balboa, sou péssimo para desejar votos de felicidade, ano novo, aniversário e momentos festivos em geral. No Natal, os meus amigos ligaram para mim, recebi vários e-mails, scraps e torpedos com mensagens muito bonitas, mas eu não soube o que responder em nenhuma delas. No máximo, repetia um "pra você também" sem graça. Já no Revéillon, suei mais do que Stallone para entrar em forma no último filme e enviar algumas palavras para os mais chegados.

Alguns dias antes, li na revista Muito uma dica de sebo, cujo endereço era próximo ao hotel em que iria passar o ano novo fora de Salvador. A sirene soou alto! Mais um round de batalha na Cidade Maravilhosa. A luta foi difícil, mas venci após mais de uma hora no ringue. Saí do recinto com duas sacolas de vinil e sem três onças na carteira.

Hoje, no caminho para casa após o trabalho, estava tão ansioso para ouvir as bolachas quanto criança esperando o Natal. Carro estacionado, quarto arrumado, roupas na estante e a primeira aquisição grita no velho CCE: "Nevermind" do Nirvana. Reeditado e zero quilômetro, o LP azul gira e as lembranças de 1993 voltam em cada faixa dos dois lados. Adoro nostalgia!

"Vamo que vamo que o som não pode parar" canta Thaíde até hoje nos bailes da vida. Esse verso é quase uma oração pra mim. Ponho o segundo disco pra tocar e lembro de quando estive na loja. Comprei o álbum no escuro pela capa, estilo da banda e pilha do vendedor. Com o nome "indecente, imoral & sem vergonha", atitude de lançar em vinil um disco de rock na era do download e desconto camarada do carioca, levei Faichecleres para Salvador.

A banda é simples, pesada e divertida como deve ser o rock. Power trio na veia! As letras falam de mulheres, farras e atitude rock. Curtindo o encarte do LP, a penúltima música do lado B chamou a minha atenção por resumir perfeitamente o que desejo para todos em 2009. Por favor, não entendam mal a letra. O que interessa nela é a mensagem de fazer o que quiser, com liberdade e sem ligar para a opinião dos outros. Apreciem: http://www.youtube.com/watch?v=SNJjzpMVrQ0

Faichecleres - O Meu Rock'n'Roll
Composição: Giovanni Caruso

"Ando pelas ruas afim de liberdade
Penso na minha vida de promiscuidade
Falo sobre drogas e uso Rock'n'Roll
Sento na esquina, faz parte do meu show
Saio com garotas completamente loucas
É assim que eu vou vivendo
Esse é o meu Rock'n'Roll
Sempre estou trocando a noite pelo dia
Vivo intensamente a vida boêmia
Bebo uma cerveja pra me tranqüilizar
Sonho com garotas a me acariciar
Sei que a vida é dura, sei que acharei a cura
E assim eu vou vivendo
Esse é o meu Rock'n'Roll
Falo com as pessoas sobre a minha insanidade
E algumas me dizem: "Isso é coisa da idade"
Dizem que sou louco por viver a vida assim
E que daqui uns tempos tudo isso vai ter fim
Gosto de ser louco e vou bebendo mais um pouco
É assim que vou vivendo
Esse é o meu Rock'n'RollRock'n'Roll..."

Feliz Rock Novo, ou melhor, Ano Novo!!!