quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A vida é boa e doce

Em sua despedida, a primavera entrega para o seu sucessor um presente de Natal antecipado com céu azul, banho de mar e o clima tão esperado por nós durante todo o ano. Por outro lado, o período das flores não presenteou os soteropolitanos com aquele frescor gostoso que só a estação dos ensaios para o Carnaval oferece. Com a vibe de verão já latente na pele e mente, começo a perceber a leve brisa que vem do mar e traz consigo um vendaval de vida e energia. Como um suave assovio que entra pelos ouvidos, sinto a vitalidade, que andava tão distante, chegar de mansinho em meu caminho. É nesse instante que "O mar e o ar" da Orquestra Imperial faz pulsar com a mesma intensidade o alto falante e o meu coração.

Este vigor começa a acontecer de maneiras múltiplas e aparentemente sem ligação, no entanto juntas constroem uma única forma tal qual um difícil quebra cabeça da Grow. A alegria então se revela e aponta cada peça do jogo.

A primeira, claro, veio com o combustível que movimenta o meu corpo. Não falo da bebida de trigo, cevada e lúpulo nem daquela famosa de Minas Gerais, mas do material aditivado de potência máxima, a música. E ela surge de modo intenso através daquilo que a faz existir, o instrumento. Talvez pela minha formação rocker, não consigo desvencilhar o “ouvir música” de “fazer o som”. Comecei as aulas de violão com treze anos e parei no mesmo ano, aos 15 ganhei uma guitarra de aniversário e arranho-a até hoje além de tocar bateria imaginária desde sempre. Um amigo da faculdade um dia confessou que seria frustrado se fosse apreciador de artes plásticas já que não soube nada de cor, tela ou pincel. Em “Tigresa”, o filho ilustre de Santo Amaro dá o recado: "como é bom poder tocar um instrumento".
Pensando nisso tudo e com os trinta anos batendo à porta, decido dar um presente especial para mim mesmo e resolvo comprar uma guitarra de gente grande ou “de homem sério” como diziam os antigos. Não foi nem preciso pensar na marca e modelo, bastou apenas eu lembrar das primeiras imagens de Slash, Joe Perry e Jimmy Page que assistia em VHS nos anos noventa. Eis o mito: Gibson Les Paul. Feito o trabalho inicial de viabilidade financeira e pesquisa, realizo o sonho de adolescente e compro um instrumento de 1ª Divisão com o apoio logístico essencial de minha amiga Colha. Logo, a ruiva cromada de Londres desembarcou na Barra e fez o pai se emocionar do mesmo jeito quando ganhou uma BMX Pantera há mais de vinte anos.

Fui apresentado ao segundo sopro vital nesta semana lá em Itapuã e foi amor à primeira vista. Imagino que as proximidades com a antiga residência do poetinha e o cheiro de dendê no ar balançaram as minhas pernas. O objetivo era preparar uma surpresa para a amada e, quem sabe, ser agraciado com um lindo sorriso, contudo não esperava que eu mesmo fosse contaminado pela simpatia daquela criatura de 15 cm de altura e 30 de comprimento. Presente aberto, o sorriso saiu naturalmente com a mesma espontaneidade que o escolhemos no meio de outros também lindos. O pacotinho adentrou ao seu novo lar, reconheceu a área, mexeu em tudo, brincou com o seu nariz e, sem saber, já possuía até nome, Bento. Em menos de três dias de convivência com os novos pais, o primogênito já mostrou pra todos a sua pegada: brincalhão, dengoso, bon vivant, guloso e torcedor do único Bicampeão Brasileiro fora do eixo Sul-Sudeste. Quando conversei com a pessoa que o criou, perguntei qual era a cor daquele que é o melhor amigo do homem. Com a força e a velocidade de um chute do Cabo Lima, a senhora respondeu: “tricolor”. Para completar, ele já teve em sua companhia o manto sagrado em forma de toalha na sua primeira noite de sono. Romário, esse é o cara!

Tudo isso fez com que eu percebesse também que a vida traz sempre surpresas boas mesmo que ela própria tire da gente o que mais amamos. Até hoje, do Campo Grande à Ondina, a guitarra de Armandinho fala "êta vida boa" e Lobão berra no microfone que "a vida é doce". Fico com os dois e digo em alto e bom som: "ELA É BOA E DOCE".

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Mora na filosofia

Conhecemos ela juntos, ambos com 15 anos, em nossa sala de aula através de um professor esquisito que tínhamos. O mestre tinha costumes fora do padrão no ambiente pensado unicamente para o vestibular e ela não era muito simpática. Por todo o ano de 1996, ele se esforçou para que tratássemos a senhora bem ou pelo menos a respeitássemos, mas o interesse pelas teorias, livros e autores citados por ela era muito menor do que as descobertas da adolescência. Definitivamente, filar aula e iniciar a boêmia com a farda do colégio eram programas mais instigantes comparados à leitura de uma "xerox" com 40 páginas. O ano letivo se encerrou e a dona passou despercebida e indiferente em nossas vidas.

Alguns anos depois, num bom baianês, eu "me bati" com a moça de maneira lúdica nas vozes, composições e câmeras de outros mestres. Passei a entendê-la e valorizá-la, mas optei por um caminho diferente. Os mistérios e as reflexões, característicos de sua personalidade, não estavam em meu DNA. Por outro lado, o amigo, já um jovem administrador, descobriu-a e por causa dela, acredito eu, se entregou aos estudos complexos, às artes, inclusive marciais, e passou a ter uma nova forma de encarar esta "vida loka, mano". No início, eu e outros amigos em comum entendíamos esta mudança de comportamento como uma certa ingenuidade e, por que não, loucura? "Tempo, tempo, tempo és um dos deuses mais lindos". Paciente igual aos alquimistas, aguardei o dia em que eu, ela e ele nos encontraríamos novamente.

De maneira inesperada, o acaso surge em uma noite junina especial. O agora maduro amigo declamou para todos no arraiá um dos presentes deixados por ela, a Filosofia: o dom da escrita. "Mora na filosofia, pra que rimar amor e dor?". O amor reinou, afinal, era casamento na roça.

Pena que, pouco depois, não notamos o alerta feito por Caetano e o amor rimou com dor também em uma dia de festejo junino. Mas o sentimento verdadeiro não se abala e permanece vivo nos nossos corações e nas palavras do filósofo.

Duro Guerreiro, Terna Dama por Yang Mendes

O guerreiro tombou
Como todo cavalheiro preparado
Tinha uma grande dama ao lado
Que com toda singeleza também serenou

Tal as grandes damas de Atenas
Quiçá um dia entenderá o Chico
Sabia ser sublime ao fazer-se elemento alquímico
Transmutando-se em nada para parecermos um tudo apenas

Talvez não haja maneira mais digna de ser grande
Que fazendo outros grandes, mesmo quando pequenos
Pequenina e de sorriso meigo que não esqueceremos
É a grande dama que também tombou ao lado do guerreiro gigante

Foi com que ela que o guerreiro mais cresceu
Tornou-se mais forte, reforçou-se de coerência
Ah, meu amigo, como sentiremos tua ausência
A voz tranqüila e o pensamento abrangente que a vida lhe deu

Sempre bem humorado para questões de humor
Sabia apaziguar qualquer ambiente
Sempre rígido, com seus valores era um valente
Que soube resistir a qualquer dor

Mas a dama e guerreiro não tombaram
O que jazem são seus corpos de carne, osso e carbono
Pois sabemos que ao verem suas virtudes distribuídas a tanto dono
Os anjos e deuses ao lhes receberem as trombetas soaram

E apesar da covardia tê-los aparentemente abatidos
Ressoam insistentemente em nossos corações
Suas vozes, seus sonhos e seus sons
E percebemos quão ilusório é aquilo que foi levado a tiros

Catarina é ternura permanente e contumaz
Paulo, a dureza valente para o que der e vier
Portanto, vos lembro o que me lembrou meu amigo Éder
“Há que endurecer-se sem perder a ternura jamais”

Melhor dizendo:
“Há que ser Paulo sem deixar de ser Catarina jamais”

Grato por ter compartilhado vida com vocês e por ter recebido mais vida de vocês

terça-feira, 27 de julho de 2010

Pra ela - 2

Na tentativa de aproveitar os últimos dias de férias e espairecer as ideias, recorro à sétima arte. Mais uma vez, opto pela comédia, que tem sido companheira ultimamente e torna-se imbatível quando bem feita, e sigo a indicação de um amigo de meu pai. Busco a sessão na internet e lamento que os horários dos filmes de arte continuem absurdos. Como só volto a trabalhar na próxima semana, posso ter o privilégio de assistir um filme às 16:40 em uma terça-feira comum. Só consigo fazer isso nestes momentos de ócio ou quando era estudante da UFBA e tinha o estudo das apostilas como única preocupação. Esta pode ser uma das causas das salas estarem sempre vazias, o que garante tranquilidade para o espectador, mas também inviabiliza qualquer rentabilidade para o negócio.

Voltando à película, a sinopse de "O Pequeno Nicoulau" não encanta muito, mas algo dizia que a diversão seria garantida. Afinal, a identificação com o tema foi imediata, pois imaginei encontrar ali cenas de amizade na infância, brincadeiras de criança e muito humor. E estava certo. As aventuras de Nicolau e seus amigos lembraram muito os anos 80 no Condomínio Catavento, tornando a alegria absoluta por toda a sessão.

No caminho para o novo lar, a leveza toma conta do corpo e conto para ela, do nosso jeito, as travessuras dos pequenos franceses e vejo o seu sorriso em minha mente.

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terça-feira, 20 de julho de 2010

Pra ela

Dentre tantas versões, fico com a voz que ela tanto ouvia e eu nunca tive a sensibilidade de apreciar.

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domingo, 27 de junho de 2010

BBB

Apesar do jeito desastrado, estabanado e, às vezes, nada delicado, tenho uma ótima relação com crianças. Tenho um pouco de Schwarzenegger em "Um tira no jardim de infância" comigo. Gosto de conversar, brincar e ouvir os causos da gurizada. Se for menino, aí é que a resenha se prolonga e o futebol anima o papo mirim. Lembro uma vez que estava no aniversário de 1 ano de uma prima e um pirralho que batia em minha cintura fez um desafio em uma partida de Winning Eleven. Olhei pra baixo e aceitei a disputa, mas com uma condição, tinha que ser BA x VI. Na hora, o pivetinho lamentou porque esperava jogar com o Barcelona ou Manchester United e dar um baile no "tio" como ele mesmo me chamou, mas jogou com o time de Canabrava. Sem treinar há meses, entrei em campo com o elenco de 2009 mais o apoio da Bamor virtual, consegui um empate vitorioso com o sacaninha e confirmo que o jogo de 11 contra 11 é realmente um esporte em que todos os provérbios populares fazem sentido. Eis um clássico: "a camisa pesa".

Sabendo disso tudo, minha mãe sempre traz notícias de uma figurinha, dona de hilárias histórias, filha de sua colega de trabalho. Em pleno clima da Copa do Mundo, a neguinha de cinco anos larga: "sou BBB, Bia, Bahêa e Brasil". Ri aos montes com a velha e disse que também seguia os passos da mini tricolor na mesma ordem.

Nesta Copa, até hoje, véspera das oitavas contra o Chile, a chama verde e amarela ainda não queimou a minha pele. Estou fazendo a minha parte e ouvi as narrações de Galvão Bueno, vesti os uniformes das seleções campeãs, soprei as vuvuzelas, mas os anões de Dunga não retribuem nos gramados o meu empenho. De qualquer forma, o futebol é diversão garantida e polêmica fácil. Com isso em mente e sendo torcedor do Esquadrão de Aço, grito quando vejo uma bandeira Tricolor nos estádios, faço questão de dizer que Daniel Alves jogou no Bahia e que Ávine e Rodrigo Gral têm vaga garantida na equipe Canarinho. Talvez se o Brasil jogasse de azul todas as partidas, as cores da bandeira teriam me contagiado.

Em meio a este marasmo, foi uma outra seleção que também traja o verde e o amarelo que chamou a minha atenção neste mundial. Não se trata dos Bafana Bafana muito menos da Austrália. Falo dos Springoks, a seleção nacional de rugby da África do Sul. Nesta semana, conheci a saga do grupo campeão mundial desta modalidade em 1995 ao alugar "Invictus" e notei o quanto esta história pode servir de exemplo para o Brasil e, sobretudo, o Bahia. Além de passar por toda a questão do Apartheid e liberdade, o filme revela a influência de um líder nato, Nelson Mandela, no capitão dos Bokkes rumo à conquista da Copa do Mundo de Rugby. Enquanto os minutos passavam no leitor do DVD, imaginei em ser o "Repórter do Fantástico por um dia" para fazer algumas perguntas aos responsáveis pelo E.C.Bahia.

O primeiro insight passado por Mandela ao elenco verde e ouro é a inspiração. Antes desacreditados pela imprensa e por eles mesmos, os bruta montes ganham confiança na temporada de treinos e crescem durante a competição. Alguns pontos: será que os jogadores de Renato Gaúcho conseguirão algo parecido? Como a nossa boa terra pode ser tão inspiradora para inúmeros artistas e não ter nenhuma identidade com estes atletas?

Em outro momento do filme, Madiba alerta os Springboks e diz que a África do Sul quer ser grande. O capitão entende o recado e tem noção que o país dele necessita do triunfo. Mais dúvidas: o atual plantel sabe que o Bahia é conhecido como "O Campeão dos Campeões" e que somos "A voz do Campeão"?

Por último, a imagem do Capitão, outrora importante e hoje apagada, é discutida. No esporte dos fortões, esta figura é respeitada, ouvida e exerce liderança de fato no grupo. Questão final: tem algum homem hoje no Fazendão com estas características?

Encerro sonhando ver meu filho como um dos mascotes tricolores entrando em campo na nova Fonte passando inspiração e alegria para um Bahia novamente campeão.

domingo, 13 de junho de 2010

Violência familiar

Acredito que, como eu, todo mundo sonha em encontrar a pessoa amada, casar, ter filhos e construir uma família alegre. Almeja-se também que este clã seja unido com amor e respeito. Mas nem todo lar vive o hit do Titãs em que cachorro, gato e galinha vivem juntos todo dia. Quando a falta de harmonia e as brigas moram sob o mesmo teto, a casa muito engrançada pensada por Vinícius cai com laje e tudo.

No vídeo abaixo, pode-se ver um ótimo exemplo de uma dura disputa entre pai e filho em um programa de auditório. Tenho certeza que Ratinho e Márcia se aposentariam se presenciassem este duelo ao vivo.

sábado, 12 de junho de 2010

Sobre a música

Com o trabalho e a ansiedade em alta, tem restado pouco tempo para escrever um texto massa. Enquanto a inspiração não volta, vou deixando alguns fragmentos do que venho consumindo. Este, em especial, é sobre a minha preferida, ela, a música. O microfone é seu, Max:

"Desde criança, de muito pequeno, a música foi meu principal referencial, minha medida de todas as coisas. Um meio interlocutor pelo qual comecei a compreender o mundo e a ter um entendimento melhor sobre as coisas da vida (experiências, paixões, problemas, alegrias, tristezas...).
Através do seu poder profundo, que desenvolve a cabeça da gente quando usamos nossa capaciade de discernimento, ao mesmo tempo em que sentimos uma leve brisa de verão no rosto, podemos reconhecer acordes, melodias, as diferenças entre os timbres dos instrumentos (convencionais ou não), a harmonia que é a combinação de todos esses elementos juntos. Podemos ainda apreciá-la esteticamente enquanto nossos corpos movem-se no ritmo, na batida...
...Um amor incontrolável. Infinitas as possibilidades. Incontáveis sensações e estados de espírito.
Música é arte e arte não serve apenas para nos distrair e nos entreter, mas para elevar o nosso nível de compreensão e consciência da vida que levamos, do mundo em que vivemos e de quem somos.".

Max de Castro em Orquestra Klaxon.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sobre a literatura

Encantado após concluir a leitura do best seller "Cem anos de solidão", reflito sobre as 447 páginas que acabara de consumir e fico fascinado com um de muitos trechos interessantes: "O mundo terá se fodido de vez (...) no dia em que os homens viajarem de primeira classe e a literatura no vagão de carga". Apertado num assento da TAM, percebo então que estou fazendo a minha parte ao levar sempre um companheiro para os momentos de solidão.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Homens com talento

Nem sou muito fã de Heineken, mas que deu uma vontade de comprar uma agora, isso deu.

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sob a luz dos olhos teus

A verve da sétima arte nunca foi muito presente em minha vida como a música e o futebol correm nas veias. Aprecio, mas não é algo que me fascina da mesma forma quando ouço um álbum raro ou estou num estádio com amigos. Para modificar este cenário, tenho feito uma cobrança interna para ir mais às salas. Estou quase apelando para comprar o temido carnê da locadora com mil tickets. Baixar filme e procurar horário na Sky são cenas cortadas do meu roteiro.

No último mês, visitei os festivais de Berlin, Gramado e, claro, o Oscar. Comédia alemã - por mais incrível que pareça, isso é possível -, leveza brasileira e blockbuster americano foram exibidas na telona da Castro Alves e nas polegadas da LCD do meu quarto. Três excelentes filmes: Soul Kitchen, Chega de Saudade e Homem Aranha. A música une as duas primeiras obras com o melhor da black music dos anos 70 e a diversidade da gafieira em 90 minutos de puro swing. No último, a canção sai de cena e os efeitos e estrondos assumem os papeis principais e são ovacionados.

Continuando a saga cinematográfica, assisti a primeira película de maio nesta semana. Como não curto muito pipoca, passo em Neinha, peço o bolinho de feijão frito, faço o caminho do Camaleão na Avenida Sete, cumprimento o poeta, Glauber e as luzes se apagam. Vendo as animações de segurança que forçam a barra para serem engraçadas e os ótimos comerciais do Itaú e da revista Piauí, noto o quanto sou ignorante em cinema. 29 anos, cinco Copas do Mundo e uma viagem à Argentina não foram suficientes para eu ser apresentado aos atores hermanos.

A sessão inicia e o roteiro imprevisível de "O segredo dos seus olhos" surpreende a cada instante como o show de Messi em campo e os passos de um tango no Esquina Carlos Gardel. Nos primeiros minutos, a sensação é que se trata de mais um fraco policial em versão portenha no qual o investigador, contra tudo e todos, busca resolver um caso sinistro. Mas, logo mando esta ideia para os extras do DVD. Este argumento é apenas um contexto para muitos temas se misturarem em uma edição que prende o olhar do espectador. O amor reprimido entre os protagonistas, a solidão do aposentado, a determinação de um homem arrasado, a corrupção na Justiça, a atitude em questionar o sistema estabelecido, a busca da própria identidade, o amor de infância que se torne obsessão e a perfeita definição de paixão feita pelo atrapalhado Pablo Sandoval seduzem e nos fazem refletir mesmo após as luzes se acenderem.

Ontem, cantando um som da "Grande Abóbora", uma de tantas boas bandas roqueiras que Salvador já perdeu, um trecho resume o filme em poucas palavras: "eu posso ter pouco pra te falar, mas pra que palavras se a gente fala com o olhar?".

Enfim, uma coisa eu aprendi: não se conta o final por pior que ele tenha sido. Sinopse em mãos e trailer adiante. Boa sessão.

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sábado, 17 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

Andar com fé

Cresci ouvindo minha mãe me dizer que um dia deveria ir ao interior de São Paulo pagar uma promessa. Como eu poderia responder por algo que nem sabia o significado? Então veio a explicação. A minha querida vó Santinha, apelido mais apropiado para o post é impossível, havia prometido à Nossa Senhora Aparecida que eu iria visitar a famosa catedral caso eu fosse curado de uma ziquizira que tive quando era guri. Cura feita, faltava apenas cumprir o prometido.

Os anos se passaram e este assunto nunca foi prioridade para mim até porque não lembrava do que havia sido curado nem tinha apreço por religiosidade. Não fiz primeira comunhão, nunca tive o hábito de ir à missa e não sabia rezar. Lembro que quando passava as férias em Minas Gerais na infância, todos os meus primos sabiam o Pai Nosso e outras orações enquanto eu não passava do "Pai Nosso que estás no céu" que lembrava das aulas de religião no saudoso IECB em Brotas. Mas não sentia culpa por isso.

Tornei-me um adolescente rockeiro e virei um universitário boêmio. Neste caminho, uma espécie de vazio interno crescia e eu percebia que algo faltava. Ao mesmo tempo, o corpo sentia dores nas articulações que indicavam uma precoce LER, uma hepatite surrou, mas não nocauteou o valente fígado, um problema sem explicação nos olhos e a inquietude e ansiedade juvenis eram superlativas. Com um cenário desses, a história sagrada esquecida voltava com toda força. Até meu pai, incrédulo nato, recomendou que fizesse logo a viagem para Aparecida e espantasse a bruxa de vez.

De malas prontas, sigo para a minha primeira de muitas idas à terra da garoa. Após um ano longo de aulas na faculdade, curso de inglês, projetos e estágios, passar dez dias em São Paulo não era nada mal para um jovem solteiro de 20 anos.

Aterriso em Guarulhos, vou direto para a casa de um tio e durmo poucas horas. Surpreendo-me com o horário em que sou acordado para cumprir o acordado com a padroeira do Brasil: 05 horas da matina! Mal o galo tinha dado a voz e eu já estava de pé. Pensei: "esses paulistas são pilhados mesmo". No carona, sigo pela Via Dutra e, obsevando a movimentada rodovia, a ficha começa a cair e, como num filme previsível, recordo-me de todas as coisas boas que já tinha vivido e possuía.

Chegando no município de Aparecida, percebo que tudo na cidade funciona em função da igreja. O gol branco segue pelas ruas estreitas e de longe já vejo o topo da imponente construção. Já no estacionamento, o queixo cai diante de tamanha imensidão e das dezenas - isso mesmo! - de ônibus com placas de todas as regiões do Brasil. Circulo pelos ambientes, vejo devotos em êxtase, amarro uma fita no corpo como um bom baiano na Colina Sagrada e encontro um local para fazer, talvez, a minha primeira oração. A emoção, antes contida, transborda e os olhos não escondem a sinceridade do momento.





Passados oito anos de muitas consquistas e alegrias, retorno à Aparecida sozinho apenas para agradecer e nada mais. Acendo uma vela e rezo por aqueles que quero bem, gosto e amo. "Andar com fé eu vou que a fé não costuma faiá". É com ela que sigo e

quarta-feira, 24 de março de 2010

Água

Nesta segunda-feira, 22/03, celebrou-se mais um Dia Mundial da Água. Como todos os anos, muitas empresas aproveitam a data para comunicar à sociedade as práticas ecologicamente corretas feitas pelas próprias corporações. Desta vez, vi muitas peças interessantes de internet e jornal nos principais veículos de comunicação do país. Mas nenhuma delas é mais impactante do que o garrafão de 10 litros do The Who de 1970 que está no vídeo abaixo. Matem a sede!

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Water

"The foreman over there hates the gang,
The poor people on the farms get it so rough,
Truck drivers drive like the devil,
The policemen they're acting so tough.
They need water,
Good water,
They need water,
And maybe somebody's daughter.

Indian Lake is burning,
The New York skyline is hazy,
The River Thames is turning dry,
The whole world is blazing.
We need water,
Wow yeah good water,
Ooh we need water,
And maybe somebody's daughter.

Ah gimme gimme good water,
Ah gimme gimme gimme good water,
Ah gimme good water,
Please don't refuse me, mister,
I seen your daughter at the oasis
And I'm beginning to blister.

My Chevrolet just made steam,
Your crop is laying foul,
My grass skirt's lost its green,
I'm alive but I don't know how.
I need water, good good water,
They need water,
Gimme gimme gimme good water,
Wow, gimme gimme gimme good water,
Gimme gimme gimme good water,
Come on gimme gimme gimme...

[faintly:] Champagne!"

Pra quem não curte os amigos de Pete e prefere um som mais tranquilo, refresquem-se com Gil:

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domingo, 21 de março de 2010

Mais momentos

Fotos com e sem relação tiradas pelo celular ao longo das andadas pela minha cidade.

Cabeça de gelo


Boêmia


Comida di Buteco - Porto do Moreira


Comida di Buteco - Boca de Galinha


Comida di Buteco - Fará


"I will survive"


"Hey, ho"


"As grades do condomínio são pra trazer proteção, mas ..."


Vaga exclusiva p / idoso

quarta-feira, 10 de março de 2010

Save the music

A cada vez que tenho conhecimento dos novos modelos de Ipods e da proliferação de DJ´s para todos os lados como Filhos de Ganhdy no Carnaval, fico mais apavorado do que quando via Jason barbarizando com sua faca e máscara na televisão. A música "orgânica" perdeu de fato o posto de Miss Universo para as ditas maravilhas contemporâneas, mas nada lembra o Melodia de "Congênito" ou "Magrelinha". Pra ser descolado hoje, é preciso ter um Ipod com um milhão de arquivos mesmo que você não ouça nem 10% deles ou frequentar uma festa com cinco DJ´s em uma única noite na boate da moda. Mas é claro que você deve ir apenas nos três primeiros meses da casa que bomba porque depois o point fica "misturado" além de saber diferenciar as batidas de house e trance.

Pensando nisso, lembro de uma entrevista em que Gilberto Gil, hoje meu amigo, comentou sobre o seu hábito de ouvir música. Questionado se era adepto do Ipod, o amigo mais famoso de Caetano respondeu que o ato de apreciar uma canção não poderia ser previsível e organizado. Com o seu jeito peculiar, o ministro disse que existe um som certo para cada momento. Ou melhor, "o melhor lugar do mundo é aqui e agora". Ainda que a função randômica do Ipod esteja ativada e que um DJ mude o set list no meio da loucura, curtir um mp3 player ou um Patife da vida jamais se igualará à sensação de ouvir A música esperada ao mudar a estação ou a alegria de ver a banda atender aos gritos da plateia durante um show.

Nesta semana, após sair de um dia cansativo de trabalho ouço no dial um conterrâneo cantar versos batidos, mas perfeitos pra aquele instante: "eu vou esquecer de tudo, as dores do mundo, só quero saber do seu, do nosso amor". O que eu mais queria era o carinho e a presença da branquinha do meu lado. Hoje, lavo a alma em um banho de mar noturno e quente no Porto da Barra, deixo ela em casa e retorno pro aconchego leve, feliz e em silêncio. Mas surge um vazio querendo incomodar a vibe. Tão rápido quanto Bolt, aciono o meu companheiro e ele me presenteia com "Cuide bem do seu amor". Recado dado, Herbert.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A loura

Ontem, após "cerveja gelada depois da obra como os óculos escuros de Cartola", chego em casa e os olhos brilham ao entrar no quarto. Sobre a cama, encontro um livro que desejava desde o seu lançamento. Alguém ouviu os meus pensamentos e fez uma surpresa. Mesmo sem terminar o best seller de Garcia Marquez, leio as primeiras páginas da "Larrouss da Cerveja" e já encontro este excelente trecho:

"... esse colossal consumo é quase sempre - se não sistematicamente - prazeroso: não se bebe cerveja como alimento, não se bebe cerveja como remédio, não se bebe cerveja como rito ou culto (o que ocorre com o vinho), não se bebe cerveja por desfastio, não se bebe cerveja por dor de cotovelo ou dores mais à cabeça. Bebe-se pelo prazer de viver, sobretudo de conviver - os bebedores solitários de cerveja são pocuos e não estão bem, ou falta-lhes, no momento, um amigo. Desde muito cedo, as cervejarias, em várias partes do mundo, se fizeram enormes ambientes, extremamente conviviais, risonhos, extrovertidos, ridentes, cantantes, dançantes até.

Um bebedor de cerveja que se reconheça como tal é, antes de tudo, um homem ou uma mulher que não deseja embriagar-se - se o quisesse, poderia dar-se a bebidas dez ou mais vezes mais fortes do ponto de vista alcoólico, para igual quantidade de líquido. Assim, o que ele ou ela quer mesmo é ter o prazer, a alegria, a satisfação, o encantamento que só a cerveja pode propiciar-lhe." (Antonio Houiass).



Este texto vai para Ailton Carvalho, Carolina Guedes, Geraldinho/Chiquinho Galindo e Zeca Pagodinho.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Música baiana

É por causa do "Rebolation", "Lobo Mau", "Me dá a patinha" e outras pérolas que encaram a música feita na Bahia desta forma:

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Touring

"Moro numa cidade cheia de ritmos, que sobe e que desce ao som da maré". Realmente Salvador é uma cidade que exalta a diversidade e demonstra essa característica principalmente nesta euforia de Carnaval. Mas nem tudo é fevereiro. O ano é longo e a maré não tá pra peixe dos outros estilos, principalmente, o rock n' roll na capital da Bahêa. Desde que o samba é samba é assim.

Volto para os anos 90 e recordo como a cena rocker SSA era movimentada. Raimundos, Ratos de Porão, Titãs, Planet Hemp, Mundo Livre se misturavam às bandas locais e festivais independentes. No cenário internacional, descobria os medalhões com fitas K7 e VHS gravadas, vinis esprestados, cd's alugados e algumas aquisições. O garimpo de música era muito mais instigante do que a atual era 2.0. Desbravar a Mundial no Orixás Center, Modinha, Aky Discos, Atakadão dos Discos e Billbox e trazer uma banda ou álbum novo para os amigos ouvirem era a glória para um adolescente rockeiro. Começava ali o sonho de um dia curtir "live" algum dos dinossauros.

A década passou rápida feito um punk rock e a Soterópolis dos anos de faculdade não agradava em nada os ouvidos acostumados a decibéis pesados. Pelos noticiários sabia dos grandes shows que passavam pelo Brasil e nenhum deles, é claro, pisava em terras baianas. Assistia pela televisão o Hollywood Rock, Rock in Rio entre tantos outros espetáculos e ao vivo o que rolava era apresentações do Rappa, Paralamas e Nação Zumbi. Todo esse contexto aumentava ainda mais o desejo de estar num estádio lotado ao som de overdrives ao invés de gritos de torcida.

Em 2005, entrei em campo pela primeira vez. Fiz a minha estreia no Estádio Pacaembu em São Paulo, essa sim é uma cidade cheia de ritmos. O dono da bola foi o cara que mescla com perfeição o peso do rock com o swing do funk e a melodia de baladas pop, Lenny Kravitz. Na casa do bando de loucos, o tocador de todos os instrumentos fez o que se esperava dele, uma apresentação impecável. A baterista britadeira, os riffs de Craig Ross, o baixo pesado com metais, piano e o estilo poser do band leader fizeram os corinthianos e não corinthianos pularem, dançarem e cantarem na arena com empolgação.

Logo em seguida, por dois outonos seguidos continuei a carreira internacional pelos rios, pontes e mangues do Recife no Abril Pro Rock. Já em 2009, regresso à São Paulo para pintar a cara, cuspir sangue e curtir rock and roll a noite toda com o Kiss. Toda essa experiência foi relatada aqui mesmo em um post anterior. Quem não leu ainda, passe lá: http://ocerebroeletronico.blogspot.com/2009/04/abril-pro-rock.html.

Dando continuidade a Tour 2009, fui para o Planeta Terra e senti a porrada sonora de Iggy and The Stooges e lisérgica de Sonic Youth entre outras bandas. Mas essa viagem merece um texto à parte. Por enquanto, mostro algumas fotos que postei no orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=4514110441435946768&aid=1257696153

"Touring is never boring". Seguindo o lema de Joey Ramone, mais um show é confirmado na agenda cerca de um mês depois. Como numa final de campeonato, este foi o momento mais esperado da temporada. Sai o hino nacional e entra o metal. Sem rótulos, estereótipos nem excessos, apenas o bom, velho e pesado metal dos anos 80. Enfim, estava prestes a realizar o sonho adolescente.

Acordo às 14 horas e consigo recuperar o cansaço do dia anterior. Meu corpo era o resultado de correria no trabalho com voo atrasado, espera no aeroporto, noite de samba-rock com primos e amigos em alto estilo e cerveja gelada na cabeça. A sabedoria popular diz que o melhor neste caso é começar tudo outra vez para rebater. A voz do povo é a voz de Deus. Preferi não contrariar o Divino já que algumas horas mais tarde estaria num ambiente from hell.

Vou com amigos na Vila Madalena no meio da tarde e passamos por aquela dúvida maravilhosa: qual bar será escolhido para a concentração? Optamos pelo Empanadas e iniciamos os trabalhos. Serra Malte na mesa, degustação de tira gosto, conversa animada e tempo bom. O palco estava pronto para seguirmos ao Morumbi.

Ao chegar no caldeirão tricolor, encontro um cenário que não via há muito tempo com camisas pretas, cabelos grandes e calças jeans por todos os lados. Abro mais latinhas, diverto-me com os metaleiros e a identificação com as roupas que usava entre a sexta série e o primeiro ano do segundo grau é imediata. Enfrento uma fila surreal que, como comparativo, seria da entrada da Fonte Nova pelo Dique até a arquibancada especial! Entro e compro a primeira cerveja com um precinho de R$ 6,00! Realmente aquilo não lembrava em nada o copão que bebia na velha Fonte. Ao por os pés no gramado do Morumba, entendo o porquê de alguns jogadores amarelaram em partidas decisivas. Eram 68 mil torcedores cantando por um time americano de apenas quatro craques, James, Lars, Kirk e Robert. Às 21:32, o Metallica rola a bola com "Creeping death" seguida por "For whom the bell tolls" e joga um futebol arte por duas horas com os clássicos de sua fase áurea. Nesta noite, o sono não foi como o de "Enter Sandman". O sonho foi real.

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Este texto é dedicado aos meus amigos do Catavento que estão comigo nessa onda rocker desde 1993.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Vou te levar

Este som é dedicado ao meu amor.

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Tropicália 2

Espero que as pessoas pensem no Haiti e rezem pelo Haiti como nunca na história deste país.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Feliz 2010!

Ano novo, mais um verão e início de década! A temporada de doze meses começa para todos com o mesmo roteiro: filme de final de ano da Globo, correntes de e-mail de Carlos Drummond Andrade, decorações de Natal assombrosas e o clássico "Feliz Natal e próspero Ano Novo". Porém, eu procuro sair da edição linear e ter um janeiro diferente com os 30 anos se aproximando no espelho, corpo e ideias.

Sendo assim, desejo para a minha família e amigos um ano novo como este som de Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta. Vamos deixar a vidinha em 2009 e curtir um 2010 de outra maneira com muito samba, amor, rock e amor.

Vidinha

(Ronei Jorge)

"Tenho uma vontade verdadeira de te abandonar
Largar de novo essa doideira que me conquistou
Chegando com a vista inteira, olhando pro céu.
Cuspindo fora essa bobeira de falsa alegria

Se passo a semana inteira isso me vicia
Essa promessa duvidosa, o meu dia-a-dia
Precisa aparecer dinheiro, aparecer amor
Leva na lábia essa vidinha que me apareceu.

Então, eu vou assim.
Vai ter quer ser.
Eu vou viver.

Viver de outra maneira"

Confiram as duas versões da música, uma mais rocker - vídeo - e outra mais swingada (basta fazer o download do álbum no site).

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Ladrão de Bicicleta 2.0: http://www.roneijorgeeosladroesdebicicleta.com/

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Manguetown

"Eu sou um caranguejo e estou de andada" (Chico Science, 1993)