domingo, 29 de março de 2009

Salve, Salvador

Sempre admirei fotografia, mas nunca pesquisei essa arte em profundidade apesar de sempre sonhar em fazer um curso para aprender a dominar as lentes. Neste sonho também existia uma vontade de retratar algumas cenas do dia-a-dia de Salvador. Recentemente, comprei um celular cheio de "guéri-guéri" que permite bater umas fotos decentes. Enquanto o curso e a máquina não chegam, o LG quebra o galho. Vejam abaixo o primeiro registro. Fiquem à vontade para criticar e, se possível, elogiar.
"Verde, azul, um espelho do céu"
"E na hora no Porto da Barra fica elétrico"

"Onda, Ondina, Pituba, Amarina, ah, ah"

"À procura da batida perfeita"
"Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar"

"Com o bucho mais cheio comecei a pensar"

Outros sonhos

"Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava
Quando me via
Sonhei que ao meio-dia
Havia intenso luar
E o povo se embevecia
Se empetecava João
Se impiriquitava Maria
Doentes do coração
Dançavam na enfermaria
E a beleza não fenecia

Belo e sereno era o som
Que lá no morro se ouvia
Eu sei que o sonho era bom
Porque ela sorria
Até quando chovia
Guris inertes no chão
Falavam de astronomia
E me jurava o diabo
Que Deus existia
De mão em mão o ladrão
Relógios distribuía
E a polícia já não batia
De noite raiava o sol
Que todo mundo aplaudia
Maconha só se comprava na tabacaria
Drogas na drogaria
Um passarinho espanhol
Cantava esta melodia
E com sotaque esta letra
De sua autoria
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias

Soñé que el fuego heló
Soñé que la nieve ardia
Y por soñar lo impossible, ay, ay
Soñe que tu me querias." (Chico Buarque)

No meio dessa loucura que vivemos atualmente, nada melhor do que sonhar um pouco. ZZZZZ

segunda-feira, 23 de março de 2009

Mancha de dendê não sai

Como bom baiano, sou viciado em acarajé. Fui infectado pelo vírus do dendê ainda criança. Nessa época, o bolinho de feijão atuava ainda como ator coadjuvante no filme do meu paladar. Outras guloseimas como o Big Sundae, Ruffles e Chocolate Surpresa eram os protagonistas. Antes restrito aos momentos no clube e praia da velha infância, o quitute frito passou a estar presente em todos os momentos de minha vida e meu corpo pedia sempre mais. Estou para o dendê como Zeca Pagodinho está para a cerveja. Aliás, aprecio muito também essa moça chamada Cevada.

O período em que enfiei o pé na jaca, ou melhor, no azeite ocorreu durante a faculdade. Estagiei por dois anos em uma agência no Rio Vermelho, reduto maior das baianas. Todos os dias quando saía do trabalho, travava uma luta interna com o meu estômago insaciável para resistir à tentação. Seduzido por aquele cheiro, que faz levitar qualquer personagem de desenho animado, a cada dia comia em um tabuleiro diferente.

Conhecedor de Salvador como poucos, o malandro Riachão canta perfeitamente a magia dessa iguaria: "é o retrato fiel da Bahia, baiana vendendo alegria, coisinha gostosa de dendê, acarajé, ô, ô, ô, ô". O acarajé relaxa após um dia intenso no trabalho, apaixona num final de tarde no Rio Vermelho, Barra ou Solar do Unhão, reúne os amigos numa mesa de bar, recarrega as energias do Carnaval e encanta paulistas, ingleses e japoneses. Desta forma, nem a clínica de Amy me reabilita mais desse vício.

Hoje meu paladar está exigente e estou igual a Tim Maia. Só compro "du bão" com pimenta, vatapá e salada. Para provar isso e criar polêmica, deixo para o leitor um saboroso Top 5 e defendo que acarajé de verdade é no papel verde. Cortado e no prato é coisa de amador.

1 - Regina (Rio Vermelho ou Graça).
2 - Cira (Itapuã ou Rio Vermelho).
3 - Olga (ACM próxima à Igreja Batista).
4 - Laura (Av. Paulo VI em frente ao Hiper Ideal).
5 - "Extra" (Paralela).


quinta-feira, 12 de março de 2009

Uma tarde em Itapuã

16:00! Estou atrasado. Arrumo a mochila, ajeito a roupa e o pouco cabelo que me resta e me despeço dos colegas. Destino: Itapuã. Como estava na Barra e o sol brilhava sobre o mar, segui pela Ladeira da Barra, Avenida Oceânica e Ondina. Uma música da A Cor do Som definia bem o momento: "na cidade, o caminho é sempre melhor pela beira do mar".

Volto pro asfalto e o trânsito de sempre atrasa a chegada. Após 1 hora e 20 minutos, passo pela casa de Juvená e viro à direita. Estaciono o carro e volto depois de quatro anos para um dos hotéis mais tradicionais da cidade que o poetinha escolheu para viver com sua Gessy. Sonhei logo com uma água de coco na beira da praia. Mas a razão subiu pra cabeça mais rápido do que um gancho de Popó. Estava ali a trabalho.

Como de costume, a reunião foi árdua com tudo a que temos direito: questionamentos, comentários irônicos, redução da verba e soluções assertivas apresentadas pela agência. Baiano bota pra fuder. Ainda mais baiano publicitário.

19:30. Cansado, vejo novamente a casa de Juvená e decido voltar pela praia pra descansar a mente. Na primeira curva, me deparo com uma cena de cinema. "Lua de São Jorge, brilha sobre os mares". Ela estava lá, "cheia, branca, inteira", iluminando o mar de Itapuã. Poucos metros depois, encontro o diplomata mais boêmio do Brasil contemplando a paisagem. Não resisto, dou uma volta pela praça e aprecio tudo de novo. Chico sabe das coisas: "é preciso conservar o olhar de turista sobre nossa cidade".

Com essa idéia na cabeça, cruzo Itapuã no estilo cheque-tartaruga. Paro em Cira e devoro um acarajé crocante de pimenta virada na porra, vatapá cremoso e salada temperada. Sigo o caminho e vejo que o Língua de Prata, o parque de diversões, o Bar de Mamão, o fedor de peixe, o pirateiro, a igrejinha, a Topic lotada, o mercado sujo e, claro, a sereia continuam lá. E que seja assim pra sempre!

Para terminar, sonho com muitas tardes em Itapuã iguais a esta cantada por Toquinho e Vinícius nesse show antológico na Itália: http://www.youtube.com/watch?v=gfwCMV-MkA4