Como bom baiano, sou viciado em acarajé. Fui infectado pelo vírus do dendê ainda criança. Nessa época, o bolinho de feijão atuava ainda como ator coadjuvante no filme do meu paladar. Outras guloseimas como o Big Sundae, Ruffles e Chocolate Surpresa eram os protagonistas. Antes restrito aos momentos no clube e praia da velha infância, o quitute frito passou a estar presente em todos os momentos de minha vida e meu corpo pedia sempre mais. Estou para o dendê como Zeca Pagodinho está para a cerveja. Aliás, aprecio muito também essa moça chamada Cevada.
O período em que enfiei o pé na jaca, ou melhor, no azeite ocorreu durante a faculdade. Estagiei por dois anos em uma agência no Rio Vermelho, reduto maior das baianas. Todos os dias quando saía do trabalho, travava uma luta interna com o meu estômago insaciável para resistir à tentação. Seduzido por aquele cheiro, que faz levitar qualquer personagem de desenho animado, a cada dia comia em um tabuleiro diferente.
Conhecedor de Salvador como poucos, o malandro Riachão canta perfeitamente a magia dessa iguaria: "é o retrato fiel da Bahia, baiana vendendo alegria, coisinha gostosa de dendê, acarajé, ô, ô, ô, ô". O acarajé relaxa após um dia intenso no trabalho, apaixona num final de tarde no Rio Vermelho, Barra ou Solar do Unhão, reúne os amigos numa mesa de bar, recarrega as energias do Carnaval e encanta paulistas, ingleses e japoneses. Desta forma, nem a clínica de Amy me reabilita mais desse vício.
Hoje meu paladar está exigente e estou igual a Tim Maia. Só compro "du bão" com pimenta, vatapá e salada. Para provar isso e criar polêmica, deixo para o leitor um saboroso Top 5 e defendo que acarajé de verdade é no papel verde. Cortado e no prato é coisa de amador.
1 - Regina (Rio Vermelho ou Graça).
2 - Cira (Itapuã ou Rio Vermelho).
3 - Olga (ACM próxima à Igreja Batista).
4 - Laura (Av. Paulo VI em frente ao Hiper Ideal).
5 - "Extra" (Paralela).