Tirei
essa foto em uma noite agradável de primavera em Salvador. Tempo bom, brisa
refrescante, expectativa de música boa, encontro com amigos e papo divertido. E
assim foi.
O
show em questão foi da banda mundial mais famosa por DVD depois da Calcinha
Preta - o Play for Change. Esse fenômeno é curioso, às vezes até engraçado,
pois acredito que o grupo tenha surgido depois de o projeto da série em DVD ter
feito sucesso em todos os continentes e o barbudo de macacão ficar famoso
cantando “Stand by me”.
Quando
soube do show, logo fiquei animado em assistir porque seria uma oportunidade
bacana de presenciar um show de música pop internacional em minha cidade. Porém,
pouco tempo depois lembrei que há dois anos, quando estive em Portugal, a banda
já estava em turnê europeia, ou seja, Salvador estava atrasada em relação
ao cenário das grandes metrópoles mais uma vez.
Esperava
o contrário, mas o público de nossa cidade tocou a música que os empresários covardes
e conservadores dessa terra queriam ouvir. Número de pagantes pífio, show
vazio, atraso, som ruim, Filhos de Jorge (!!!) para abrir a festa e uma escola
de samba-reggae (!!!) no intervalo. Enquanto presenciava tudo aquilo, olhava a
arquibancada iluminada, o gramado perfeito, o formato da ferradura com vista
para os orixás e a imponência da nova Fonte, agora transformada em Arena. Enfim,
um ambiente impecável para qualquer atração mundial, como ocorrera com Elton
John e as partidas épicas da Copa das Copas. Tive a sorte de estar em ambos os eventos e
também de conhecer outros estádios fora da Bahia e do Brasil. E digo sem dúvida
alguma: o gigante do Dique é o melhor de todos que eu já visitei. É claro que falta um museu interativo, moderno
e divertido igual ao do Camp Nou, um restaurante classudo como no Bernabeu, organização
britânica que vi em Cardiff nas Olimpíadas ou até a pressão da Bombonera, mas nenhum
deles tem o charme e beleza do Octávio Mangabeira. Apesar disso, a Fonte
Nova continua sendo palco de reduzidos espetáculos de entretenimento e de péssimos
jogos de futebol.
Frequento
os arredores do Jardim Baiano, Dique do Tororó e Centro desde os sete anos de
idade e foi nessa região que conheci um lugar onde aprendi a viver e sentir a
paixão do maior esporte do mundo e pelo time que torço. Descobri que um grande
jogo só é completo quando a casa está cheia. Vi de perto as glórias e decepções
de uma equipe humilde, mas que pensava grande. Conheci uma nação de milhões e
com a cara da nossa gente, alegre, mestiça e diferente. O azul, o vermelho e o branco
juntos foram e sempre serão as cores da moda no meu guarda-roupa. Fui ao dia da
maior tragédia em 2007, chorei com a demolição e sonhava constantemente com
aquela tarde difícil, mas tinha esperança de que a Fonte se reerguesse e que domingo
estaria ali de novo.
E
ela voltou. Linda, um pouco menor, mais confortável, desejada e pronta para
receber o que houvesse de melhor em diversão. Salvador agora tinha uma casa de
espetáculos de ponta e o Bahia o seu mando de campo tradicional novamente. Mas
só ficou um problema. A boa terra se mantém provinciana para tudo o que foge do
padrão musical do momento, o Tricolor já não é mais de aço e a fonte permanece
seca, fria e sem vida.
E
o simples desejo de sair de casa para curtir um show de rock n’roll gringo,
tomar uma cerveja, vibrar com meu time campeão e retornar para o lar segue adiado por mais uma
temporada.