domingo, 14 de fevereiro de 2010

Touring

"Moro numa cidade cheia de ritmos, que sobe e que desce ao som da maré". Realmente Salvador é uma cidade que exalta a diversidade e demonstra essa característica principalmente nesta euforia de Carnaval. Mas nem tudo é fevereiro. O ano é longo e a maré não tá pra peixe dos outros estilos, principalmente, o rock n' roll na capital da Bahêa. Desde que o samba é samba é assim.

Volto para os anos 90 e recordo como a cena rocker SSA era movimentada. Raimundos, Ratos de Porão, Titãs, Planet Hemp, Mundo Livre se misturavam às bandas locais e festivais independentes. No cenário internacional, descobria os medalhões com fitas K7 e VHS gravadas, vinis esprestados, cd's alugados e algumas aquisições. O garimpo de música era muito mais instigante do que a atual era 2.0. Desbravar a Mundial no Orixás Center, Modinha, Aky Discos, Atakadão dos Discos e Billbox e trazer uma banda ou álbum novo para os amigos ouvirem era a glória para um adolescente rockeiro. Começava ali o sonho de um dia curtir "live" algum dos dinossauros.

A década passou rápida feito um punk rock e a Soterópolis dos anos de faculdade não agradava em nada os ouvidos acostumados a decibéis pesados. Pelos noticiários sabia dos grandes shows que passavam pelo Brasil e nenhum deles, é claro, pisava em terras baianas. Assistia pela televisão o Hollywood Rock, Rock in Rio entre tantos outros espetáculos e ao vivo o que rolava era apresentações do Rappa, Paralamas e Nação Zumbi. Todo esse contexto aumentava ainda mais o desejo de estar num estádio lotado ao som de overdrives ao invés de gritos de torcida.

Em 2005, entrei em campo pela primeira vez. Fiz a minha estreia no Estádio Pacaembu em São Paulo, essa sim é uma cidade cheia de ritmos. O dono da bola foi o cara que mescla com perfeição o peso do rock com o swing do funk e a melodia de baladas pop, Lenny Kravitz. Na casa do bando de loucos, o tocador de todos os instrumentos fez o que se esperava dele, uma apresentação impecável. A baterista britadeira, os riffs de Craig Ross, o baixo pesado com metais, piano e o estilo poser do band leader fizeram os corinthianos e não corinthianos pularem, dançarem e cantarem na arena com empolgação.

Logo em seguida, por dois outonos seguidos continuei a carreira internacional pelos rios, pontes e mangues do Recife no Abril Pro Rock. Já em 2009, regresso à São Paulo para pintar a cara, cuspir sangue e curtir rock and roll a noite toda com o Kiss. Toda essa experiência foi relatada aqui mesmo em um post anterior. Quem não leu ainda, passe lá: http://ocerebroeletronico.blogspot.com/2009/04/abril-pro-rock.html.

Dando continuidade a Tour 2009, fui para o Planeta Terra e senti a porrada sonora de Iggy and The Stooges e lisérgica de Sonic Youth entre outras bandas. Mas essa viagem merece um texto à parte. Por enquanto, mostro algumas fotos que postei no orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Album?uid=4514110441435946768&aid=1257696153

"Touring is never boring". Seguindo o lema de Joey Ramone, mais um show é confirmado na agenda cerca de um mês depois. Como numa final de campeonato, este foi o momento mais esperado da temporada. Sai o hino nacional e entra o metal. Sem rótulos, estereótipos nem excessos, apenas o bom, velho e pesado metal dos anos 80. Enfim, estava prestes a realizar o sonho adolescente.

Acordo às 14 horas e consigo recuperar o cansaço do dia anterior. Meu corpo era o resultado de correria no trabalho com voo atrasado, espera no aeroporto, noite de samba-rock com primos e amigos em alto estilo e cerveja gelada na cabeça. A sabedoria popular diz que o melhor neste caso é começar tudo outra vez para rebater. A voz do povo é a voz de Deus. Preferi não contrariar o Divino já que algumas horas mais tarde estaria num ambiente from hell.

Vou com amigos na Vila Madalena no meio da tarde e passamos por aquela dúvida maravilhosa: qual bar será escolhido para a concentração? Optamos pelo Empanadas e iniciamos os trabalhos. Serra Malte na mesa, degustação de tira gosto, conversa animada e tempo bom. O palco estava pronto para seguirmos ao Morumbi.

Ao chegar no caldeirão tricolor, encontro um cenário que não via há muito tempo com camisas pretas, cabelos grandes e calças jeans por todos os lados. Abro mais latinhas, diverto-me com os metaleiros e a identificação com as roupas que usava entre a sexta série e o primeiro ano do segundo grau é imediata. Enfrento uma fila surreal que, como comparativo, seria da entrada da Fonte Nova pelo Dique até a arquibancada especial! Entro e compro a primeira cerveja com um precinho de R$ 6,00! Realmente aquilo não lembrava em nada o copão que bebia na velha Fonte. Ao por os pés no gramado do Morumba, entendo o porquê de alguns jogadores amarelaram em partidas decisivas. Eram 68 mil torcedores cantando por um time americano de apenas quatro craques, James, Lars, Kirk e Robert. Às 21:32, o Metallica rola a bola com "Creeping death" seguida por "For whom the bell tolls" e joga um futebol arte por duas horas com os clássicos de sua fase áurea. Nesta noite, o sono não foi como o de "Enter Sandman". O sonho foi real.

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Este texto é dedicado aos meus amigos do Catavento que estão comigo nessa onda rocker desde 1993.

5 comentários:

Anônimo disse...

inveja boa!!! queria estar lá p ouvir o "preto" na sequência... rs

texto massa. tá na hora de vc mandar uma resposta ao cidadão que te chamou de kiko na década de 90... rs

abs,
regi.

Anônimo disse...

Foi o show da minha vida, com certeza. Acabei indo nas duas apresentações! Pena que nao te encontrei por lá...

::Soda Cáustica:: disse...

inveja da porra.

LeandrodMF disse...

É fazer o quê? Espero que outro dia voltem e que tenha $$ para ouvir "Welcome Home" live!! Grande Metallica!!

Rodrigo disse...

Estou aguardando o "texto à parte" sobre o Planeta Terra 2009.