sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Roque e o besouro

Na vida de todo ser humano existem fatos marcantes que mudam por inteiro o way of life do pacato cidadão. Pode ser uma viagem, um amor, um livro ou qualquer dois mil réis. Gil não seria o mesmo se não fosse exilado em Londres, Arnaldo Baptista poderia estar lúcido até hoje se não amasse Rita Lee e os LP´s "Tim Maia Racional Vol. I e II" poderiam ser encontrados ali pertinho do Bompreço se o Síndico não tivesse lido "Universo em Desencanto". Surtei quando conheci um brother chamado Rock.

Filho de um negão de nome Blues, americano e com mais de 60 anos, Rock apresentou para o guri de 12 anos uma nova forma de ver o mundo através da música. O ano era 1993 e, como todo adolescente, eu consumia o que estava no mainstream. A moda daquela época era tomada por um dos netos de Rock, o Grunge. Ele era um cara massa que transbordrava música e comportamento, ou melhor, rock e atitude. Com ele, descobri porradas como "Bleach", "Nevermind", "Ten" e "Superunkown" e passei a pensar e me vestir diferente.

Depois disso, o cidadão instigado conheceu a família toda. Com o tempo, Hard Rock, Heavy Metal, Punk Rock, Hardcore, Psicodelia, Progressivo e a árvore genealógica completa do filho do Diabo se tornaram meus melhores amigos. Porém, durante esses anos uma mania de criança insistia em vir à tona, a de não gostar de algo sem conhecer. Costumava dizer que detestava camarão, lambreta e maniçoba sem nunca ter comido uma moqueca, bebido um caldinho quente no copo americano ou ter ido almoçar na A Venda.

Esse "tique" se transformava num TOC pior do que o de Roberto Carlos quando alguns amigos conversavam comigo sobre uma das principais obras do velho Rock, uma banda de quatro ingleses dos anos 60. Já tinha lido muito a respeito deles, ouvido diversos hits, sabia da sua importância, mas o Sargento Pimenta não agradava os meus ouvidos de jeito nenhum. Puro preconceito. Quase um apartheid.

As coisas mudaram enquanto lia a biografia banda mais foda do Brasil, Os Mutantes. As páginas corriam e o autor fazia constantes referências à devoção dos irmãos Baptista e de Rita Jeep pelo Submarino Amarelo. Pensei: "se Arnaldo e cia dizem que a principal influência deles são os Beatles, esses caras devem ser realmente bons. kkkkkkk". Acho que nunca fui tão ignorante em minha vida. Nesse momento, lembrei de uma entrevista em que Ed Motta comentava como se tornou fã de Tom Jobim. O cantor de "Manoeeeel" comprou o primeiro disco do Maestro quando leu na contra capa do LP o nome de um produtor que ele admirava. Se não fosse essa nota de rodapé, talvez a bossa nova nunca entrasse no funk e soul do sobrinho de Tim Maia.

Mas, o assunto é Rock e sua extensa família. A cena vergonhosa descrita acima aconteceu em setembro de 2007. No mês seguinte, fui ao paraíso dos discos em São Paulo, a "Baratos Afins" na Galeria do Rock, e fui recuperar o tempo perdido. Comprei "Rubber Soul" e "Sgt. Pepper´s". Fiquei viciado. Ainda em outubro, mudei de emprego e a maior parte da agência venerava Seu Rock. Nos dez meses que passei nessa empresa, sob influência do diretor de criação, conheci os verdadeiros The Beatles. Recentemente, comprei dois álbuns clássicos, "Branco" e "Revolver".

Se não fosse apresentado a Rock há 15 anos, provavelmente nunca entenderia o que foram os besouros.

Escrevi esse texto, que dedico para Caio, Tiago, Pedroca e Coló, ouvindo Paul, John, George e Ringo na radiola e no CD player.

9 comentários:

Laert disse...

Apesar do reconhecimento da importância histórica e musical dos Beatles, ainda não consigo venerar e me sentir "normal" ouvindo-os no dia-a-dia, como a maioria das pessoas que os amam fazem.

Houve um tempo em que eu realmente não gostava, não queria ouvir, não tinha nenhuma curiosidade em vasculhar o imenso legado deixado por eles, tal qual foi Roberto Carlos no Brasil.

Aos poucos vou quebrando esse gelo com os besouros e vou adicionando esse legado na minha playlist...mas ainda não é a hora de curtir da forma como eu admiro e escuto outros artistas.

Não é por ignorância ou radicalismo...tenho toda a discografia, já ouvi todos.

Enfim...all you need is love.

Anônimo disse...

talentoso você tb :)
adoro hein? vem logo pra cá ver os nossos mutantes ;****

Anônimo disse...

Creio que por pura ignorancia e apartheid (detesto ter preconceitos... uehuehuhe) continuo desconhecendo estes besouros... mas você a 3a influência a falar deste quarteto, prometo ver se vale a pena...
Odeio sensacionalismo, mesmo que ao invés de ser "marketeragem" seja apenas a mais pura realidade.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

teu texto me fez lembrar dos meus tempos fuçando os Lps de rock do meu pai,dos dias que fugia das aulas no Sartre para ir para a loja de cds do Shopping Barra, ver os novos do Nirvana, Green Day, Pearl Jam, Soundgarden, Rage Against.
Lembrei dos dias de domingo aos 9-10 anos que era de lei meu pai em casa meio que obrigar os filhos a ouvir Raul Seixas e Jackson´s 5, Tim Maia, o REI e até Gozaguinha e Agepê.
Sempre me achei um pouco diferente, meio musical demais, meio com uma vontade louca de ser uma guitarrista ou viver de música. Nada precisaria dar certo: bastava eu saber tocar a coisa direito, sentir a melodia tomar conta de tudo, como eu sinto quando ouço uma banda que eu gosto. Acho que eu seria um pouco mais feliz.
Como eu disse, vc tem tino pra coisa, saca de música, digo que até te vejo como um Nelson Motta girino, se continuar escrevendo assim e buscando aprender, ouvir. Sensibilidade e inteligência vc tem.
Pronto, chega de rasgação de seda.
bjs
vi

::Soda Cáustica:: disse...

Galindo:
Escrevi tudo isso lá em cima e esqueci do meu lado filantrópico, indicando as tais coisas do Radiohead... como te conheço, acho q vc vai odiar de todo jeito. Só faz uma coisa por mim (promete): pôe os vídeos aí embaixo,uns fones e ouve de olhos fechados primeiro depois veja o clipe (óbvio), coração aberto.
Depois me conta. Pode esculhambar... acredito que vc sendo um menino cristão, não vá cortar os pulsos depois dessa overdose de Lexotan:

Radiohead - Jigsaw Falling Into Place:

http://br.youtube.com/watch?v=GoLJJRIWCLU&feature=related

Radiohead - Bodysnatchers:

http://br.youtube.com/watch?v=cAIHRIO73e8&feature=channel

Radiohead - Karma Police

http://br.youtube.com/watch?v=5LeLAELIxKY

Radiohead - All I Need (Official MTV Video)

http://br.youtube.com/watch?v=cdrCalO5BDs&feature=related

Radiohead - High & Dry

http://br.youtube.com/watch?v=NCPDiEz-GcE

Anônimo disse...

Grande Eder,

no papel do diretor de criação supracitado em seu texto, me sinto extremamente satisfeito e orgulhoso. Vida longa aos Fab Four, vida longa ao rock and roll!!

Um forte abraço, amigo velho.

Colonnezi

Unknown disse...

Lembrar da época em que Rock fazia parte de nossas vidas intensamente me fez pensar e me questionar: será que Rock é apenas uma fase ou um ser que passa para poder refinar, aprimorar, evoluir nossas mentes?

Anônimo disse...

regi,

alternativa B. o rock sempre estará conosco mesmo que não estejamos do seu lado no dia-a-dia.

abraços,

eder