sábado, 17 de janeiro de 2009

Eu sou o Carnaval em cada esquina - Fim da trilogia

Os dois primeiros textos desta série relataram a minha relação de ódio com o Carnaval. Como num romance juvenil, onde briga-se com a colega de sala todos os dias no colégio, mas no final o amor sempre reina, comecei a paquerar o Carnaval. Com os hormônios em alvoroço, os solos da guitarra baiana começaram a tomar conta do coração antes ocupado por riffs distorcidos.

Nesta fase de conquista, fui seduzido primeiro pela beleza da festa. Linda! Refiro-me às meninas baianas, garotas de ipanema, gurias do sul e maravilhas de todo o Brasil. O lado lúdico do Rei Momo ainda não fazia a minha cabeça. Luiz Caldas tem um refrão que descreve bem o lema da época: "eu quero beijo, beijo, beijo, beijo, beijo, quero te beijar".

O objetivo era vencer sempre de goleada dos adversários. O time jogava pra frente no esquema 0-0-11 e todos queriam ser o camisa 9. As partidas eram disputadas e duravam muito mais do que noventa minutos. Se o baba fosse na praia entre a Barra e Ondina, a busca pela artilharia durava 5 horas. Agora, se o jogo fosse na quadra do Campo Grande, mermão, o cronômetro marcava até 7, 8 horas. E tome gol! O importante era ter um saldo positivo sem se importar com gol bonito ou feio. Salve, Túlio Maravilha! Aliás, não existe nenhum boleiro que só tenha feito gol de placa.

Antes do campeonato começar em fevereiro, havia a pré-temporada na qual escolhia a equipe em que iria jogar. A decisão era criteriosa. Analisava o desempenho do time no ano anterior, o preço, o mando de campo - Orla ou Avenida - e o comandante do elenco - Banda Eva, Araketu, Cheiro de Amor entre tantos outros nomes. Nestes anos, vesti diversas camisas, A Barca, Nú Outro Eva, Cerveja & Cia, Cheiro de Amor e Camaleão, e nunca desapontei a torcida em nenhuma delas.

Após paquerar e ficar várias vezes com a maior festa do mundo, resolvi assumir o namoro. Com o aumento da intimidade, passei a perceber outras qualidades da pessoa amada e aquela paixão inicial deu lugar a um relacionamento maduro. Descobri o Carnaval de verdade ao acompanhar na pipoca os trios e artistas que realmente curtia - Armandinho, Dodô e Osmar, Expresso 2222, Daniela Mercury, Carlinhos Brown e Margarete Menezes. Neste circuito independente, pulei solto sem se preocupar com cordeiros ou seguranças, vesti as roupas que quis e não precisei usar a mesma camisa que outras três mil, não paguei nada, entendi o significado das palavras energia, fé e diversidade e as via ao meu lado o tempo todo, contemplei o espetáculo da multidão ávida por alegria, ouvi e chorei com apresentações memoráveis dos músicos mais fodões do Brasil como Pepeu e Armandinho, Gil e Jorge, Daniela e Lenine, Arnaldo Antunes e Davi Moraes e Caetano com Samuel Rosa.

Por outro lado, os defeitos do companheiro numa relação a dois sempre aparecem e ficam cada vez mais evidentes. Já pensei em dar um tempo, fazer uma viagem ou até ser infiel e conhecer as festas de Recife ou Rio de Janeiro, mas acho que vou mesmo é pedir o divórcio do Carnaval de Salvador. A mesmice, falta de criatividade, incompetência, disparidade, ostentação, ganância, futilidade, intolerância, falta de respeito e preconceito de todos chegaram a níveis absurdos.

Infelizmente, depois de seis dias de êxtase, chega a quarta-feira de cinzas. Mas, prefiro terminar em alta igual aos confetes e serpentinas lançados no ar. Para isso, nada melhor do que citar uma das bandas mais importantes do Carnaval de Salvador, os Novos Baianos, e imaginar como seria o verso de Galvão "minha carne é de Carnaval, meu coração é igual" saindo da Boca de Cantor numa época em que não vivi, a Castro Alves abarrotada num encontro de trios às 05 horas da manhã.

Este texto é dedicado ao meu amigo Jow e aos Galindos, a família mais foliã do mundo.

3 comentários:

::Soda Cáustica:: disse...

vc é um fanfarrão, Eder Galindo.

Bruno Cartaxo disse...

Pedir o divórcio e perder a Vida Boa? Duvido.

Abraços carnavalescos.

Eder Galindo disse...

cachaço,

como diz fhc, esqueçam tudo o que eu disse. hehehe

abraços!