Hoje não fui. Busco nos últimos anos ir somente aos lugares em que me sinto bem, à vontade, alegre e com energia boa. Mesmo na companhia de família e amigos, lá não ficaria nesse astral. A dor massacraria corpo e mente, a saudade transbordaria e entregaria o meu olhar, os porquês não teriam respostas e o dia seguiria triste e feio como o céu em dias de outono chuvoso.
Não fui, mas o visitei. Estávamos longe, mas o encontrei mesmo assim. Não precisei sair de casa, usar óculos escuros, comprar flores, chorar ou abraçar alguém. Nada disso foi necessário. O meu último abraçaço foi diferente, do jeito dele, na tentativa de imaginar o que se passava em sua cabeça naquele instante. Então, a agulha risca a bolacha com clássicos de Duke Ellington e John Coltrane e cria a ambiência perfeita para as lembranças de quase cem anos surgirem naturalmente em sua passagem.
A juventude boêmia na Salvador da primeira metade do século XX? As glórias do seu tricolor no Campo da Graça, contra o Santos de Pelé e 88? A construção da família e nascimento das filhas? As muitas viagens pelo Brasil afora? A cantoria poliglota em Arembepe, Stiep, Flamengo, Abrantes ou qualquer outro lugar em que o "cachorro engarrafado" estivesse ao seu lado? Causos e fatos como esses de um bon vivant inveterado, entusiasta da alegria, música e, claro, um whisky 12 anos, ficarão sempre registrados em minha memória.
Valeu, Evandro!