Nestes dias de calor e ansiedade em Salvador que antecedem o Carnaval, saio de uma leitura densa, questionadora e reflexiva para outra mais leve e alegre. Tiro do armário um dos livros que ganhei no Natal com a certeza de que este é o momento ideal para aproveitá-lo. Trata-se da segunda obra de um autor que, assim como Chico Buarque, passei a acompanhar o seu trabalho além das canções. Porém, enquanto o poeta dos olhos azuis opta por figuras esquisitas como Benjamin, José Costa e o idoso em estado terminal, o bigodudo de óculos escuros prefere contar os causos de sua vida em verso, prosa e música. "Sonhos Elétricos" de Moraes Moreira entra em minha vida da mesma maneira que "Acabou Chorare", fazendo-me sonhar que a folia volte a ser da maneira que Caetano Veloso a descreveu em 1975.
"O Trio Elétrico tem sido uma coisa muito importante nas nossas vidas. Um mito, um exemplo de saúde e criatividade, um argumento eficaz na discussão contra o pensamento careta que vez por outra tenta destransar o barato da música popular no Brasil. Mas principalmente para nós baianos, o Trio Elétrico tem sido sobretudo uma curtição maior deste mundo. Cada carnaval é um acontecimento importante dentro da gente - como tem que ser o carnaval - por causa do Trio Elétrico.
Nunca é demais agradecer a Osmar e Dodô por terem permitido através da sua juventude que isso tenha se dado. Moraes, sempre novo e sempre baiano, sabe isso certo e bonito. É o pique antropofágico do som do Trio, carnavalizando tudo que encontra pela frente - Os clássicos mais populares e os populares mais clássicos. Viva a Bahia!".