Em 2007, após algumas negociações no trabalho, ajuste de contas e planejamento de viagem, saí do insuportável marasmo de Salvador entre o carnaval e o São João e pousei na capital do mangue beat. Faltava pouco para realizar o desejo adolescente de conhecer o festival independente mais importante da região. Depois de um dia de sol e boêmia pelas ruas de Olinda, chego ao Centro de Convenções para o dia D. Ao entrar no local, deparo-me com um caranguejo gigante e fico à vontade em meu habitat. Desde o primeiro dia até o terceiro, as minhas reações foram diversas: emocionado ao presenciar o reencontro dos Mutantes; extasiado com a jam session de Marky Ramone e João Gordo; nostálgico no show Ratos de Porão ao manter distância da temida roda punk; surpreso com o som do O Quarto das Cinzas de Fortaleza; alegre na performance ilária dos The Playboys e dançante com a metaleira da Orquestra Contemporânea de Olinda.
No ano seguinte, parto para o próximo disco. Igual a todos os segundos álbuns de carreira, a crítica é sempre exigente e a expectativa alta. Porém, Paulo André sabia disso e não decepcionou. Trouxe dinossauro do punk, o New York Dolls, clássico do hardcore, Bad Brains, ícones do underground brasileiro, Autoramas, Zumbis do Espaço e Wander Wildner, nome novo do cenário independente, Pata de Elefante, bandas locais, atrações inusitadas como Céu e Lobão que encerrou o evento com um show do caralho! O local foi outro dessa vez, o Chevrolet Hall, mas o ambiente, a energia do público e a convivência pacífica de várias tribos foi a mesma.
Em 2008, o festival teve apenas dois dias, pois a terceira data seria em maio com um show de metal. Por causa disso, o power trio - eu, Rodrigo e Rubens - entrou no palco novamente para mais uma noite entre os rios, pontes e overdrives. Fazendo "um passeio pelo mundo livre", descobrimos a qualidade e diversidade das casas locais e fomos para um bar curtir mais rock, ou melhor, samba-rock. Encerramos a turnê de 2008 em grande estilo sem frevo, mangue beat ou rock, mas com muito samba e chopp gelado como o da foto.
Neste ano, o abril continuou sendo de rock, mas em outra arena. Com exceção do Motorhead, não curti a grade de programação do Abril Pro Rock 2009. Então, troquei Recife pela Meca do barulho nacional. A mudança não foi apenas geográfica, mas principalmente de estilo. Depois de dois anos no circuito alternativo, retornei ao mainstream em todos os sentidos. De palcos pequenos para o sambódromo paulistano, do experimental ao hard rock, refletores tímidos se transformaram em telões de última geração e, finalmente, do Mukeka di Rato para o KISS.
Em 2005, assisti Lenny Kravitz no Pacaembu. Ansioso pelo show, devorava todas as informações sobre o mesmo. Numa das entrevistas, o cantor disse que a iluminação e produção da sua turnê tinham como inspiração os grandes concertos do Kiss. Apesar de já ter assistido diversos clipes da banda, não fazia idéia do que seria um espetáculo desse ao vivo. Quatro anos se passaram e eu estava a pouco metros de Stanley e Simmons para saber se Lenny tinha razão. Não havia local mais apropriado para a apresentação dos caras pintadas, pois o show foi mais apoteótico do que o desfile das escolas de samba, a explosão das bombas e fogos era tão sincronizada quanto as batidas das baterias, efeitos pirotécnicos de cair o queixo e, claro, uma musicalidade simples e absurda! Foram duas horas de puro rock n' roll com muitos hits e também algumas faixas Lado B. Apesar do som estar ruim, o vídeo abaixo mostra um pouco do que escrevi aqui.
É por isso que Jagger canta há anos "It´s only rock n' roll, but I like it"